Leve-Me Com Você | Quando estranhos se cruzam e nasce uma história tocante

Perder alguém que você ama é sempre um processo doloroso. Às vezes, nós assistimos sua partida por um bom tempo, mas em outras, a pessoa vai embora de repente. Assim, sem aviso, sem preparo, e nós ficamos para trás com perguntas e dúvidas cheias de tristeza, vivendo o luto. Essa é a situação de August em Leve-me Com Você.

August é um professor de ciências de ensino médio que perdeu seu filho de dezenove anos há pouco tempo. De lá para cá, a única certeza que teve era que precisava fazer sua típica viagem de verão no seu trailer, vendo as belezas naturais americanas. Ele precisava chegar ao Parque de Yellowstone. No entanto, imprevistos acontecem e seu trailer enguiça.

Na oficina mecânica, ele recebe uma proposta inusitada: Wes, o mecânico, precisa que August fique com seus filhos, Seth e Henry, até o final do verão porque ele vai estar na cadeia. Leve-os com você, August, na sua viagem de verão. Dessa forma, sem entender muito bem o porquê, August aceita e nós ganhamos uma história de amizade, admiração e compreensão tocante.

Leve-me Com Você é, em suma, um livro emocionante. Não no quesito adrenalina, pois tem uma narrativa mais lenta, mas no que diz respeito aos nossos sentimentos. Dividido em três partes –  e um epílogo comovente, o livro de Catherine Ryan Hyde, publicado pela DarkSide Books, fala sobre como uma amizade verdadeira pode surgir das mais inesperadas maneiras. Quem diria que um homem de meia idade encontraria em duas crianças grandes confidentes?

O relacionamento entre August, Seth e Henry tem suas peculiaridades. Seth é um menino tagarela, enquanto Henry nunca fala. Os dois tem que aprender a lidar com os problemas do pai que o levaram para a prisão mais vezes do que qualquer um desejaria. August vive só e vai ter que relembrar como é estar com duas crianças dependendo dele. Mesmo assim, a harmonia que se dá entre os três é quase que instantânea e fica fácil de ver que essa viagem significa muito mais do que eles previam.

Wes e August dividem um problema em comum: o alcoolismo. Quando seu filho morreu, a mulher de August, que dirigia, estava um pouco alta e não devia estar no volante. Mesmo sem ter sido culpa dela, ele abandonou a bebida desde o acidente. Wes, por outro lado, considera o álcool seu melhor amigo, sua salvação e ele “poderia parar a qualquer hora”. Graças à essa situação, nasce uma semente de admiração dos meninos por August que só aumenta durante o verão. Com o desenrolar da história e o passar dos anos, Leve-me Com Você constrói uma noção que muitas pessoas ainda não acreditam: existem mais que um tipo de família para nós.

A família tradicional não funcionou nem na vida dos meninos, nem na vida de August. Seja por culpa dos próprios integrantes, seja por ações do destino, a solidão – mesmo que eles não estivessem literalmente sozinhos – bateu à porta. São com livros como este que nós conseguimos começar a enxergar ou reafirmar a ideia que o amor pode vir em todas as formas e, inclusive, de completos estranhos.

Uma história com uma mensagem como essa não seria algo inédito para a autora. Para quem não sabe – como eu que só descobri ao ler a biografia dela no final do livro -, Catherine Ryan Hyde escreveu o livro A Corrente do Bem, que deu origem ao belíssimo filme com Helen Hunt e Haley Joel Osment, onde um menino começa uma corrente de boas ações que alcança uma quantidade enorme de pessoas. A sensibilidade das histórias de Hyde parecem ser exatamente o que falta nesse mundo, por isso, a recomendação é inevitável e insistente.

August, Seth e Henry crescem e amadurecem por meio das suas conversas, brigas, perguntas e estradas. E nós fazemos o mesmo através das páginas de Leve-me Com Você.