saltburn
Filmes,  Recentes

Saltburn | A sensação da cultura pop vale a pena?

Eu pensei em como começar a falar sobre Saltburn umas cinquenta vezes pelo menos. O filme chocou a cultura pop recentemente, agradou a muitos e fez outros tantos o odiarem. Foi realmente um daqueles casos de oito ou oitenta. A questão é que, com a popularidade crescente, Saltburn seguiu o ditado: fale mal ou fale bem, mas falem de mim. Agora, por que o mais novo filme da diretora de Bela Vingança, Emerald Fennell, teve tamanha repercussão? Vem que eu te explico. 

Mas primeiro, vamos à história.

Oliver Quick (Barry Keoghan) é um jovem bolsista de Oxford bem inconformado com sua vida. Nenhum amigo, ambiente totalmente diferente do que está acostumado, ele anseia por algo novo. E é aí que entra Felix Catton (Jacob Elordi). Felix vem de família aristocrática, rica e conservadora. É lindo e rodeado por amigos, todos iguais a ele. Oliver, então, decide que precisa entrar na vida de Felix e ser amigo dele. A qualquer custo. 

Em uma de suas estratégias para fortalecer a amizade, Felix resolve convidar Oliver para sua casa, Saltburn, durante as férias. É aqui que entra a superficial, egocêntrica e absurda família Catton e Oliver compreende seu real objetivo. Será que Saltburn resiste aos planos de Oliver? 

Saltburn não é um filme para estômagos delicados

Como eu disse lá no início, não sei bem como registrar o que achei desse filme aqui. O fato é que Saltburn brinca em ser um filme muito bom, mas que arrisca cair na desgraça do povo com suas cenas um tanto… Nojentas. Não há outra palavra. Mas é preciso destacar que existem diferentes tipos de nojo. Há aqueles por questões fisiológicas, aqueles por comportamentos que são considerados pelo senso comum como imorais, outros também comportamentais, mas não tão construídos em consenso. 

Prime Video | Reprodução

O que importa é que o nojo, a repulsa e a sensação de incredulidade no que estamos assistindo são chaves para tornar Saltburn memorável. Contudo, já te deixo avisado que algumas cenas (em particular, a da banheira – quem viu, sabe) conseguem revirar seu estômago. Nunca um filme me fez ficar enjoada como Saltburn fez. 

Por trás do choque

Quando você consegue ultrapassar a barreira da repulsa, começa a entender a importância do tom visceral do filme. Ela em si representa, ao meu ver, uma forma de criticar a relação de classes que presenciamos hoje em dia. Oliver vem de uma origem bem mais simples que Felix. Ele ambiciona uma vida melhor, bem melhor. Felix, por sua vez, nasceu na abundância e gosta de ser o centro das atenções, sem valorizar muito o que tem. O choque cultural entre os dois é um perigo para ambos. E, durante o filme, vemos o mais esperto, digamos assim, sobressair. 

Prime Video | Reprodução

Emerald Fennell construiu um filme, para mim, muito bom sobre ganância, sem escrúpulos, sem limites, em que o público é testado o tempo todo. Testa-se nossa tolerância a injustiças, a pessoas mimadas, a comportamentos nojentos e controversos. Com toda certeza, nos faz refletir sobre quem deixamos entrar em nossas vidas, eliminando a possibilidade de qualquer tipo de inocência proveniente dos recém-chegados. 

As pessoas, nuas e cruas

Nosso protagonista, interpretado brilhantemente por Barry Keoghan, é intrigante. Seu comportamento nos faz questionar suas intenções durante boa parte do filme. Mas, para aqueles que conhecem a história de O Talentoso Ripley, elas podem ficar bem claras mais cedo do que talvez fosse a intenção. O que resta de curiosidade, então, é como ele vai atingir seus objetivos obscuros. 

Ao mesmo tempo, a família Catton representa cada um características que incomodam. Rosamund Pike interpreta a matriarca Elspeth Catton, que tem fobia de pessoas feias. Alison Oliver dá vida a Venetia, irmã de Felix, uma garota imersa em inseguranças e medos. Archie Medekwe traz Farleigh, talvez o mais consciente da família, compreendendo o seu papel de dependente, crente em uma inacabável fiança para com os Catton. Deu para entender, não é? 

Conclusão

Saltburn incomoda, aflige e intriga. Não é um filme, realmente, que vá agradar a todos. Mas, se você conseguir passar pelas cenas de embrulhar o estômago sem colocar tudo para fora, compreendendo que elas estão ali com um propósito, o filme é muito bom. De verdade. Então, como você pode ver, eu faço parte da parcela para qual Saltburn foi mais um agrado do que um ódio. Mesmo quase chamando o Raul. 

Apaixonada por música, cinema, moda e literatura, história mundial e andar de bicicleta. Sonha em ter muitos carimbos em seu passaporte.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *