O Mundo Depois de Nós - Capa
Críticas,  Filmes,  Recentes

O Mundo Depois de Nós | Um filme que se leva a sério demais?

Quando eu ouço que o filme tal tem a ver com fim do mundo, minha curiosidade já se eleva ao quadrado. Não foi diferente com O Mundo Depois de Nós, lançamento recente da Netflix que conta com um elenco de estrelas: Julia Roberts, Ethan Hawke e Mahershala Ali. Além disso, ainda trouxe Barack e Michelle Obama como produtores executivos. Só nome de peso, não é? As expectativas eram altas.

Inclusive, esta não é a primeira vez que a Netflix junta grandes nomes em um mesmo elenco para falar do final do nosso planeta. Quem se lembra de Não Olhe Para Trás? Nele um asteróide iria colidir com a Terra e não tínhamos escapatória. E, assim, Jennifer Lawrence, Leonardo DiCaprio, Meryl Streep e Jonah Hill, entre outros, prometeram um baita filme. É. 

O Mundo Depois de Nós
Imagem: Netflix | Reprodução

Agora com O Mundo Depois de Nós, uma família nova-iorquina decide alugar uma casa em Long Island no final de semana para fugir da confusão da cidade. Apesar de estarem em relativa paz na casa alugada, o dono da casa retorna com sua filha após o que parece ser um blackout na cidade e pedem para ficar ali. Com o passar das horas, eles descobrem que o mundo que eles conheciam não existe mais: um ataque cibernético acabou com tudo. E ainda vai ficar pior. 

Aonde O Mundo Depois de Nós acerta?

O filme, baseado no livro de Rumaan Alam, tem uma premissa extremamente atual e interessante. Em tempos de inteligências artificiais, imaginar o final do mundo começando por um ataque cibernético não parece tão distante como antes. O peso desse ataque, inclusive, seria muito mais paralisante do que tendemos a admitir e talvez, da mesma forma que os personagens do filme, não assimilaríamos logo de cara que algo está errado. 

Em paralelo, a ambientação de O Mundo Depois de Nós é bem consistente com o que a técnica do filme quer passar (e falaremos sobre ela no próximo tópico). O casal Amanda (Julia Roberts) e Clay (Ethan Hawke) são retratos estereotipados, mas não caricatos, da família de classe média alta norte-americana. Eles alugam uma casa luxuosa, com piscina, muitos quartos, natureza em volta. Olha que beleza. Mas também, olha que isolamento. Essa solidão, esse afastamento somados ao glamour minimalista transmite uma falsa calma e uma inércia tão bem quanto o próprio enredo do filme. 

O Mundo Depois de Nós
Imagem: Netflix | Reprodução

E onde ele errou?

Justamente na sua inércia. O filme se demora em tomadas inventivas, que giram, fazem closes, tentando gerar a sensação de suspense e… Nada acontece na maioria das vezes. Se o mundo está acabando e você está temporariamente isolado, eu imagino que nos primeiros sinais de problema (sim, posteriores àqueles para quem estava em grandes centros), você tenta sair do isolamento, teoricamente. Mas tudo demora horrores para acontecer. E essa aliança entre técnicas que geram expectativa e o grande nada que vem após delas todas as vezes frustram o público.

Uma outra técnica perfeita para exemplificar essa inércia é o uso de uma trilha sonora bem similar às usadas por Hitchcock e Kubrick. A grande diferença é que todo o resto do filme deles orna com esse tipo de trilha. E O Mundo Depois de Nós não seguiu o mesmo caminho. Afinal, é bem difícil conciliar um som horripilante ou amedrontador com Julia Roberts tomando um vinho numa cozinha chiquérrima, admirando a paisagem pela janela. 

O Mundo Depois de Nós
Imagem: Netflix | Reprodução

Dessa forma, o quebra-cabeça de O Mundo Depois de Nós não se encaixa. Faltam peças e as que nós temos não possuem desenhos que fazem sentido. Se não há a exploração ativa do porque o mundo estaria acabando, existiria talvez uma jornada do herói ou um trabalho de recuperação pós-apocalipse. Mas aqui, não há nada. Há um leve sentimento de “ó, precisamos fazer algo” e pouco fazem. 

O polêmico final

Aqui temos spoilers! Leia por sua conta e risco!

Ao meu ver, o final de O Mundo Depois de Nós é bastante simples e só quis posar de complexo. O elenco é dividido em dois núcleos. O primeiro com Clay e George (Mahershala Ali) indo buscar uma resposta para o que aconteceu com o filho de Clay e o segundo, com Amanda e Ruth atrás da filha mais nova do casal, Rose (Farrah Mackenzie), que fugiu da casa. 

No primeiro núcleo, ganhamos uma explicação do que estaria acontecendo de verdade: um ataque aos Estados Unidos, e não ao mundo, para acabar com a hegemonia do país, orquestrado por sabe-se lá quantos outros países ou organizações juntos. No segundo núcleo, temos a confirmação dessa explicação com Nova York explodindo. Faz mais sentido quando se assiste ao monólogo final de George no carro.

O Mundo Depois de Nós
Imagem: Netflix | Reprodução

Ok, ganhamos uma explicação pela qual a essa altura nem sabemos se queremos mais devido ao tamanho tédio. E Rose com seu sumiço? A menina cansou de não ter atenção e foi sobreviver por conta própria. Encontra uma casa vizinha abandonada, também muito chique e cheia de comida, e nela descobre um bunker muito bem arrumado, como uma pequena casa. E lá ela encontra tudo o que ela estava precisando naquele momento: o último episódio de Friends. Sim, isso mesmo. Isso porque ela mesmo diz no filme que a série é uma das únicas coisas que a faz feliz. 

E, me diga, em um momento tão desesperador quanto esse pretendia ser, não buscaríamos uma dose, qualquer dose de felicidade? Rose encontrou a dela. Voltar para seus pais naquele momento não lhe daria nem metade da alegria do que ela sentiria ao saber que Ross e Rachel ficaram bem e juntos. 

Conclusão

Elenco desperdiçado. Técnicas soltas que não fizeram sentido. Gastei tempo com esse filme para que vocês não precisem gastar. A única coisa que não entendi: para que tanto cervo? Se alguém souber, me explica nos comentários, por favor. Obrigada.

Mais sobre no filme no Instagram Diga, Isa, é só clicar aqui.

Ficha Técnica:

Direção: Sam Esnail
Elenco: Julia Roberts, Ethan Hawke, Mahershala Ali, Kevin Bacon, Myha’la Herrold
Ano: 2023
Origem: Estados Unidos


Apaixonada por música, cinema, moda e literatura, história mundial e andar de bicicleta. Sonha em ter muitos carimbos em seu passaporte.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *