Céu Sem Estrelas - Capa
Literatura,  Resenhas

Céu Sem Estrelas | Uma história de amar – o outro e a si próprio

Desde a liberação do título, Céu Sem Estrelas falou comigo de alguma forma. Sempre que me deparava com ele nas redes sociais, sabia que eu tinha que ler a história de Cecília o mais rápido possível. O primeiro livro de Iris Figueiredo pela editora Seguinte, selo jovem do Grupo Companhia das Letras, não é só um rostinho bonito de capa espetacular: Céu Sem Estrelas trabalha sentimentos e conflitos emocionais de uma forma que transbordam qualidade. Mas, estou colocando a carroça na frente dos bois. Vamos à história.

A história de dois jovens e um fusca azul

Cecília acabou de fazer dezoito anos e recebeu um dos piores presentes de aniversário: ela foi demitida da livraria onde trabalhava. Como se não fosse o suficiente, a relação com sua mãe – que nunca foi muito boa – está no limbo graças à traição do seu padrasto. Ela acabou de entrar para a faculdade de desenho industrial, mas não está muito estimulada. Afinal, ela só encontra alegria nos momentos em que está desenhando, mas o curso em si não chegou nem perto dessa felicidade. E, para fechar com chave de ouro, Cecília é gorda e tem sérios problemas de autoestima e aceitação.

Há, entretanto, uns pontinhos de felicidade na sua vida: seus amigos. Em especial, Iasmim e Rachel. As três formam um tipo de amizade especial, moldado e fortalecido pelas diferenças entre elas. Iasmim é aberta ao mundo, curte festas, é super animada. Rachel é bem centrada e determinada. Cecília oscila entre elas, sempre abraçada a insegurança, mas firmando seus pés no chão.

Graças a essa amizade, ela conheceu Bernardo. O irmão de Iasmim é um garoto simpático, que ela não conhece a fundo, mas sempre esteve ali. Bem ao seu lado, seu eterno crush. Um pouco mais velho, Bernardo leva uma vida superficialmente tranquila: faculdade, amigos, festas. Mas nem tudo são flores na primavera e, quando o outono chega, ele vê que Cecília é mais do que a amiga da sua irmã mais nova.

Céu Sem Estrelas - Sinopse

Duas vozes para um 360° perfeito

Quando me deparei com Céu Sem Estrelas na livraria em um momento em que precisava matar tempo, o destino falou mais alto e me proporcionou uma das cadeiras sempre ocupadas para que eu, de cara, devorasse as setenta primeiras páginas do livro. Cecília, com sua voz um tanto melancólica e sua vida bastante complicada é intercalada com o aparentemente mais leve Bernardo. Essa aposta dupla de narradores foi uma sacada de mestre da autora.

Graças a ela, nós ganhamos um panorama maior para conhecer a realidade de cada personagem, suas famílias, seu cotidiano. E isso ajuda a enriquecer a história de Cecília. Somado a isso, o talento de Iris entra em cena, não é? Desenvolver duas vozes, uma masculina e outra feminina, no mesmo livro e constantemente envolvidas não é pouca coisa. A autora tirou de letra. Se foi fácil, não sei, mas o resultado ficou sensacional.

Representatividade em cada linha

Já faz um bom tempo que venho procurando histórias com protagonistas gordas. Minha adolescência foi tomada por personagens principais brancas, de cabelo castanho e manequim 38. Essa minha busca começou com Tamanho 42 não é gorda, da Meg Cabot, e achou outros títulos como, por exemplo, Poder Extra G, da Thati Machado – ambos super recomendados.

Encontrar Céu Sem Estrelas no meio do caminho foi uma benção. A alma de Cecília falou com a minha e mostrava o que foi, o que é e o que poderia ter sido a minha e a vida de muitas pessoas que lutam contra a balança e com aquela voz que cisma que gordo é um palavrão, um defeito imperdoável.

Por mais protagonistas gordas e pelos sucessos da luta pelo fim dos fantasmas que assombram nossa doce protagonista! Acompanhar a dor de Cecília abre os olhos do leitor para a necessidade de eliminar a ideia de que gordura diminui o caráter ou a capacidade de uma pessoa para tudo e qualquer coisa. E são livros como CSE que gritam por essa mudança, são eles que vocês precisam ler para ontem. Você não precisa ser gordo para enxergar que as mudanças são necessárias. É só chegar na página 357, o ponto final de Céu Entre Estrelas.

Amor de todas as formas, tamanhos e manequins

Como diz a mãe de Meghan Trainor, “don’t worry about your size, she says, boys they like a little more booty to hold at night”. E não é que ela está certa? Lá está Trainor, linda e noiva. O amor e a atração não são receitas de bolos, seguindo sempre os mesmos passos em quantidades pré-determinadas. Bernardo viu a beleza de Cecília a partir do momento em que puderam sentar para uma conversa mais ampla do que ‘oi’. Ele se sentiu atraído por ela em um incidente em que suas roupas não escondiam mais as suas curvas. Ele viu quem ela era por dentro e por fora e percebeu que estava interessado.

Céu Sem Estrelas - Lombada

A velha história do ‘há sempre um chinelo velho para um pé cansado’ é mais real do que nós pensamos e do que os adolescentes teimam em insistir na inexistência. E ainda por cima eles encontram sintonia e companheirismo – entre altos e baixos, mas encontram.

Por fim…

Céu Sem Estrelas pode ativar alguns gatilhos. O livro trata sobre depressão, automutilação, relacionamento abusivo, alcoolismo espalhados pelos núcleos da história. Por isso, a história pode ativar sentimentos e pensamentos mais sensíveis. O aviso, portanto, é necessário. Mas, se você mesmo assim persistiu e leu essa história impactante e viciante, aposto que está como eu, considerando um dos melhores livros de literatura jovem nacional atualmene – talvez para sempre.

Céu Sem Estrelas - Informações Técnicas

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