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Resenha | Artemis, de Andy Weir: alta velocidade em gravidade lunar

“É um pequeno passo para o homem e um salto gigante para a humanidade” Essa frase eternizou a corrida espacial durante a Guerra Fria quando, em 1969, a missão americana Apollo 11 pousou na Lua e mostrou que o céu não era mais o limite. Hoje, os países começam a oferecer uma viagem turística para contornar a Lua por algumas singelas centenas de milhões de dólares. Pensando dessa forma, não soa impossível que o cenário criado por Andy Weir em Artemis seja, um dia, realidade. A Lua de Weir, algumas décadas a nossa frente, já foi colonizada e tem um polo urbano propriamente habitado e funcional. É lá que mora a contrabandista Jass Bashara. 

Depois de emigrar da Arábia Saudita com seu pai aos seis anos, Jasmine cresceu em solo e gravidade lunares, observando seu pai em suas atividades de soldador. Artemis é uma cidade promissora, industrial e principalmente turística. Ou seja, um mundo de possibilidades para a esperta e determinada garota. Jass, no entanto, cresceu um tanto rebelde e descompromissada, escolhendo ignorar o potencial que tanto diziam que ela tinha. Ela gostava de soluções rápidas e fáceis, especialmente as que vinham acompanhadas de uma boa recompensa para que ela finalmente pare de dormir em “caixões” – como chamam as apertadas câmaras-apartamentos. 

Lombada do livro Artemis

Por isso, ao receber uma proposta milionária de um magnata local, Jass resolve apoiá-lo em um plano para expandir seus negócios. Seu amplo conhecimento em ciência serviria para alguma coisa afinal. Era uma missão árdua, envolvendo sair do complexo e, bom, destruir grandes máquinas, e se isso não foi suficiente para assustá-la talvez os donos delas seriam. Jass Bashara pode ter se metido em problemas maiores do que conseguiria carregar, muito menos se safar.

O eletrizante romance de Andy Weir conquista o leitor em poucas frases. Seu primeiro capítulo já nos coloca em movimento e pulamos em um trem andando em alta velocidade. Mas, calma, você entende a história logo, logo. E de quebra ganha uma narradora de humor icônico: ironias e sarcasmos não faltam. Jass não é uma dama indefesa, nem uma mulher imbatível. Ela diz besteira, toma decisões erradas, pode ser um tanto egoísta, mas é brilhante, corajosa, ambiciosa. Embora viva dentro das páginas de um livro, é uma mulher de verdade, com seus defeitos e qualidades. 

Uma das coisas que mais me dá receio quando um autor escreve na voz de uma mulher é que ela caia em estereótipos. E, com a graça do talento de Weir, isso não aconteceu. Jass é uma personagem bastante autêntica e todos os aspectos da sua vida são bem trabalhados, inclusive os que ficam em segundo plano. O foco da história, portanto, não se perde. Só ganha ritmo e vicia o leitor.

Sinopse do livro Artemis

Enquanto o astronauta Mark Watney está preso em sua estação marciana e pouco acontece, Jass Bashara nos mostra toda Artemis e um pouco do lado de fora em uma narrativa rápida, fluída e instigante. A escrita objetiva de Weir junto com uma certa mistura de gêneros fizeram Artemis evoluir a cada página. Se antes nós pensávamos que estávamos lendo uma história de ficção-científica e somente isso, nós caímos de cara no chão porque, na verdade, nos entregaram também um romance policial, uma comédia romântica e intrigas internacionais e planetárias.

Esse ambicioso salto no estilo de Weir deu certo em quase todos os pontos para mim. Um livro de escrita leve e certeira, que deixa o leitor preso, querendo saber o desfecho; cheio de humor, mas sem exageros; uma voz feminina bem desenvolvida; uma perseguição bacana… Vários pontos legais e, olha, tem até uma representação brasileira na história! Agora, pequeno spoiler, ela não soa bem pesquisada, viu, Weir?! Sanchez não é um nome muito brasileiro, alguns outros usados também não. Acho que uma pesquisa geográfica e social melhor teria funcionado mais. Realmente me incomodou. Enfim, nada é perfeito.

Ignorando este detalhe, Artemis é um livro incrível. A mistura de gêneros somada a uma protagonista bem concebida que ganha a gente – e a tantas outras coisas – fazem desse livro uma experiência de leitura muito prazerosa. Só não li em dois dias porque é em inglês e ando um pouco enferrujada, maaaas vamos torcer para que a Editora Arqueiro (responsável pelo lançamento de Perdido em Marte em português) traga logo essa cidade lunar e sua contrabandista para as terras brasileiras. 

Update 12/09/18: A editora Arqueiro anunciou a publicação de Artemis no segundo semestre deste ano e os direitos para a nova obra de Andy Weir para o cinema foram comprados pela 20th Century Fox. Se tiver  a mesma qualidade que Perdido em Marte, promete ser um filmão!

Informações técnicas sobre o livro Artemis

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Apaixonada por música, cinema, moda e literatura, história mundial e andar de bicicleta. Sonha em ter muitos carimbos em seu passaporte.

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