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Dissecando Séries | O Tempo Entre Costuras – entre guerras, amores e espiões

Há algum tempo atrás, resenhei o livro O Tempo Entre Costuras, de María Dueñas, no meu antigo blog. Cheguei, inclusive, a trazê-lo para cá. Esse livro surtiu um efeito em mim meio estranho. Eu sabia que tinha em mãos uma história rica, mas durante toda a leitura senti que algo estava escapando entre meus dedos como areia. Na época, como disse na resenha, achei a protagonista sem sal. Ela tinha uma vida exótica e perigosa, mas parecia que estava sempre com a famosa cara de paisagem. 

No final do ano passado, entretanto, encontrei uma minissérie de mesmo nome na Netflix e, é claro, fiquei curiosa, pois não sabia que existia uma adaptação. Do momento em que apertei o play e Sira Quiroga (Adriana Ugarte) abriu a boca, fui tomada pela certeza de que ali sim aquela história daria certo para mim. Afinal, uma história com modices, viagens, um background histórico instável e em guerra, entupida de espiões e com romance em dose certa? Como eu não poderia gostar?

Uma sinopse

Sira Quiroga cresceu em um bairro modesto na Madrid da primeira metade do século XX. Sua mãe era costureira em um atelier bem conhecido e sua infância foi brincar entre costuras. Após aprender o ofício da mãe, quando já é uma jovem adulta, ela se depara com portas abertas para uma vida aparentemente recheada de amor e aventuras. Ela, então, não pensa duas vezes ao abandonar sua zona de conforto entre agulhas, linhas e ruas conhecidas,  e seguir nesse novo caminho.

Algumas reviravoltas desse nosso mundo de cão acabam deixando-a sozinha em um país totalmente diferente do seu e impossibilitada de retornar para casa. Sira precisará, então, juntar todas as suas últimas forças para sobreviver e tentar construir um novo lar, um novo futuro. Mal saberia ela que esse novo futuro envolveria muitas confusões políticas, perigosas trocas de informações, uma história de amor mesclada às ameaças e uma nova interpretação de suas raízes.

 Um cenário diferente

Eu não sei vocês, mas as séries que estou acostumada a ver são normalmente ambientadas nos Estados Unidos ou em Londres – além de lugares fictícios, claro (oi, Storybrooke!, olá, quase qualquer lugar de Doctor Who!). Sair dessa zona de conforto e mesmice pode ser muito bom de vez em quando. Quando entrei na Espanha do início do século passado e depois no Marrocos da mesma época, senti que meu interesse pela história cresceu. Então, se você procura uma série com pano de fundo cultural diferente, essa é para você. Ou ainda, se busca por um panorama histórico novo, inserido no passado, também vai te interessar.

O choque entre culturas, a possibilidade em meio a necessidade de explorar o novo e a urgência pela coragem para recomeçar são tanto os nossos guias quanto os de Sira. Marrocos parece uma reunião improvável da ONU, pois nunca vi tantas nacionalidades juntas na mesma série. Isso porque a história se passa no tempo entre guerras mundiais em que a segunda já bate à porta de braços dados à Guerra Civil Espanhola. Nós conhecemos espanhóis, ingleses, alemães, marroquinos, portugueses e mais em uma teia de esquemas e sotaques muito intrigante. Todos eles influenciam a vida de Sira de tal forma que ela precisa fazer brotar uma força que por muito tempo não tinha noção de que possuía. E ela será fundamental para que ela aprenda a sobreviver e a valorizar mais cada pedaço da sua vida.

Uma protagonista de respeito

Sira Quiroga começa fraca, menina, sem sal, com muitas esperanças e com a cabeça na Lua. Se no livro ela permanece, para mim, apática do início ao fim, na minissérie ela ganha brilho graças a uma grande performance de Adriana Ugarte e a boa direção de Iñaki Mercero e Norberto López. Essa reviravolta me fez enxergar a garra da protagonista muito mais que no livro. Ugarte cresce bem ali na frente dos nossos olhos, nos dando uma Sira menina apaixonada, jovem despedaçada, mulher recuperada e confiante e muito mais com a complexidade de todo ser humano. É uma personagem que vai ganhando a sua admiração pouco a pouco e, quando você menos percebe, está torcendo por ela com todo afinco que se pode ter na frente da Netflix.

Uma minissérie viciante

Com uma fotografia belíssima e somente dezessete episódios, O Tempo Entre Costuras revela a força da mulher, apresenta as sutilezas de uma guerra e vicia o público. A produção de 2013 foi premiada em diversas áreas e conseguiu um raro status no meu acervo: quando uma adaptação é melhor do que sua obra original. O transporte do livro para TV foi tão bem feito, tão incrível que seria difícil isso não acontecer. Os personagens se tornaram queridos, a história de Sira, admirável, e a curiosidade pela imaginação de María Dueñas em seus outros trabalhos foi reavivada em meu coração. 

No final do ano passado, inclusive, a editora Planeta, responsável pela publicação das obras da autora, reeditou o livro que deu origem a série e ainda lhe deu uma nova capa – dura

O Tempo Entre Costuras comprova que você não precisa só assistir séries americanas ou britânicas para ver histórias de qualidade. Migrem para outros países, sejam corajosos como Sira e mergulhem em novas culturas desse mundão. 

Obs: Para quem quer aprender ou está aprendendo espanhol, os diferentes sotaques dão um bom cenário para diversificar as vozes do idioma. 


Trailer:

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Apaixonada por música, cinema, moda e literatura, história mundial e andar de bicicleta. Sonha em ter muitos carimbos em seu passaporte.

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