Literatura

Resenha | Persuasão, de Jane Austen, uma dose extra de romance para a vida

Quem me conhece só um pouquinho sabe que sou no mínimo suspeita para falar quando se trata de Jane Austen, pois sou aquele tipo de fã muito animada e apaixonada quando se trata da autora. E qual seria a melhor forma de fazer isso do que em comemoração ao segundo centenário da morte da própria? Porque afinal, nós precisamos celebrar e muito que Jane Austen possa ter nos ensinado e nos maravilhado com seus romances que inspiram e fazem suspirar até hoje escritores e leitores do mundo inteiro, mesmo depois de algumas centenas de anos.

Persuasão foi a última obra escrita pela autora em torno de 1816 e publicada em 1818, um ano depois de sua morte. Enquanto escrevia esta história Jane Austen já se encontrava muito doente e muitos creditam a isso o fato de Persuasão ser menos elaborado e não tão bom quanto seus outros títulos, mas na minha opinião o livro tem uma história muito original, madura e envolvente, sendo assim tão bom quanto os outros.

A trama se passa na sociedade britânica do século XIX, como de praxe nas obras de Austen. Anne Elliot é a protagonista desta história, uma mulher solteira já no alto dos seus 27 anos – fato que já torna Persuasão diferente de todas as outras que tem como protagonista jovens mocinhas – e muito gentil, inteligente e sensata, mas desprezada e sendo constantemente deixada de lado pelo restante da família que não se importa com ela. Órfã de mãe, ela mora com seu pai, o baronete Walter Elliot, e sua irmã mais velha, Elizabeth, na residência que sempre foi de posse dos Elliot, Kellynch Hall. O pai e a irmã sempre foram pessoas muito extravagantes e imprudentes ao gastarem mais do que possuíam com o objetivo de construírem sua imagem na sociedade, o que acaba por obrigá-los a alugarem a propriedade para o almirante Croft e sua esposa, a fim de pagarem as dívidas.

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Qual não é a surpresa para Anne quando ela descobre que o almirante é ninguém mais ninguém menos do que cunhado do Capitão Frederick Wentworth, seu primeiro e único amor de quem fora noiva oito anos antes e com quem rompeu o compromisso porque foi persuadida pela família e por Lady Russell, uma amiga muito próxima da família e principalmente de Anne, por sua má condição financeira e poucas esperanças de sucesso e riqueza no futuro. Assim, Anne se encontra em uma situação muito desconfortável quando precisa se ver na presença do Capitão depois de tantos anos e de ter partido seu coração, descobrindo que agora ele é dono de uma fortuna e que, além disso, está a procura de uma esposa, ao mesmo tempo em que despreza e evita qualquer diálogo com Anne em seus primeiros encontros. Mas à medida em que ambos voltam a se relacionar e a conviverem juntos, percebem que os sentimentos que sentiram no passado ainda existem. Aos poucos, Anne consegue aceitar o fato de que ainda tem esperanças de um dia tornar a ter o coração do Capitão, enquanto este consegue derrubar suas barreiras que o impedem de se entregar à Anne. 

Mas nem tudo isso é simples, pois Frederick torna-se logo muito desejado por Louisa Musgrove, cunhada de Mary Musgrove, irmã mais nova de Anne. Louisa é jovem, muito bonita e dona de um espírito alegre, onde o Capitão Wentworth encontra a determinação que Anne não tivera no passado, sendo sempre muito prudente. Ao ver que o relacionamento entre Frederick e Louisa avança, Anne apenas espera que seu ex-noivo seja feliz, com ela ou sem ela, mas isso não impede de continuar desejando-o e de sentir-se cada vez mais infeliz e arrependida por ter rompido com o Capitão no passado.

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Jane Austen desenvolve a trama de Persuasão de forma admirável, onde o desenrolar dos acontecimentos são muito bem entrelaçados e nos levam a conhecer melhor do caráter e sentimentos de cada personagem, que nesta obra foram, ouso dizer, mais complexificados e melhor trabalhados do que em qualquer outra obra de Austen. Além do relacionamento entre Anne e Frederick, personagens como Mary e Charles Musgrove, irmã e cunhado de Anne, respectivamente, são responsáveis, muitas vezes, pela boa dose de humor característico das obras de Austen. Além deles, a trama do primo distante dos Elliot, William Elliot, adiciona à história um certo ar de mistério a medida em que deixa o leitor muito curioso em descobrir quais são seus verdadeiros planos em se reaproximar de Anne e sua família.

Por fim, Persuasão é lindo. É romântico, doce, rico, inspirador e, ao fim, nos deixa muito ansiosos em saber como terminará. Sabiam que a autora modificou o fim da história pois a primeira versão não lhe satisfez? Austen removeu o último capítulo e acrescentou outros dois, o que foi ao meu ver, e acredito que para muitos, a melhor decisão, pois garantiu um desfecho mais bonito e melhor planejado. Mas, claro, a leitura de ambos os desfechos é muito válida. De uma forma ou de outra, Jane Austen nos apresenta um romance muito complicado e muito realista, marcado por constrangimentos e mágoas do passado que o casal precisa superar para que possam se perdoar e se entregar novamente à paixão que um dia viveram, e que comprova, mais uma vez, que a vida é sempre cheia de reviravoltas e que o amor é um desafio constante.

Ficha Técnica:

Título: Persuasão | Autora: Jane Austen | Tradução: Roberto Leal Ferreira | Páginas: 241 | Editora: Martin Claret | ISBN-13: 9788572327954 | ISBN-10: 8572327959 | Ano: 2010 | Adicione ao: Skoob – Goodreads

Carioca viciada em pizza, Cinderela e livros. Não suporta injustiça, não atende telefone de casa e queria ter um cavalo preto pra chamar de seu. Já viajou por vários lugares do mundo. Na sua mente.

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