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Santa Clarita Diet: aquele trash para chamar de seu | Diagnóstico

Em 2008, Stephenie Meyer eclodia e trazia de volta a era dos vampiros. Era vampiro para tudo quanto era lado: nos cinemas, nas livrarias, na televisão… Como toda e qualquer era nesse mundo, ela teve um começo, um ápice e um fim. Eu acredito que a nova era que se seguiu a esse boom vampiresco foi a dos zumbis. Eles chegaram sorrateiramente com aquela seriezinha na Fox e ganharam o mundo. Se antes era sobre eterna juventude e poder, agora o foco está na decadência e na sobrevivência. Com sete temporadas no currículo, a “seriezinha” – também conhecida como The Walking Dead – é só o início desta nova era que, assim como aquela outra lá com os vampiros que brilhavam, tem suas paródias.

Santa Clarita Diet evoca o morto-vivo de uma maneira um tanto peculiar. Sheila Hammond (Drew Barrymore) é uma dona de casa e corretora junto com o seu marido, Joel (Timothy Olyphant), que mora nos clássicos subúrbios estadunidenses. Tem uma filha adolescente mal-humorada e metida a sabe-tudo, um vizinho bastante inconveniente e uma personalidade bem morna. Sem grandes sonhos ou ambições, a animação de Sheila fugiu em algum momento da sua vida e a deixou num poço de timidez e comodismo. Em um belo dia comum de sua rotina, Sheila passa mal e vomita. Muito. Põe muito nisso. E desmaia. Ao acordar, ela descobre que está um pouco diferente. A comida não lhe satisfaz como antes e a carne crua chama muito mais sua atenção.

Desesperado com o novo apetite da mulher, Joel procura uma solução, mas digamos que não é um mal tão fácil de se chegar para um médico e dizer “minha mulher vomitou e agora come carne crua; o que eu faço, doutor?” sem ser mandado para um psiquiatra. Ele e Abby (Liv Hewson), sua filha, precisam lidar com a nova Sheila, esfomeada e surpreendentemente animada. A situação só piora quando ela percebe que carne humana pode ser a dieta perfeita para as suas necessidades. Joel bem que queria só ter que lidar com carne de bicho congelada, mas Sheila desenvolve um paladar bem assassino e canibalesco. A família Hammond busca por respostas enquanto tenta lidar com o apetite desenfreado de Sheila e as bagunças que ele deixa no caminho – eu mencionei o vizinho inconveniente, né? – e, inclusive, com a nova personalidade da corretora. Ela faz o que ela quer, quando ela quiser e onde ela quiser. O que nem é problemático com seus instintos novos, não é mesmo?

Amo/sou a Drew Barrymore nesse momento 😀

Prepare-se para muito sangue. Se você achou que muito vômito era palhaçada ou exagero, assista o primeiro episódio só. São 30 minutinhos. Dá para ver enquanto espera numa fila de banco ou entre aulas. Só realmente não recomendo junto a refeições. O trash vem com tudo nos baldes e baldes de sangue que rolam, espirram e jorram por ali. Estilo Tarantino de assassinato. Esse é um dos toques que levam a série para a paródia e a comédia. Outro ponto é o roteiro. Sem medo de xingar e com uma dose perfeita do politicamente incorreto – sem ofender ninguém, mas enxergando o absurdo da situação -, Santa Clarita Diet faz você rir bem mais do que eu esperava que fizesse. A naturalidade de Drew Barrymore com as partes do corpo/comida é tão impagável quanto o desespero de Timothy Olyphant.

Outra coisa que adorei foi a distorção de prioridades de Sheila. Antes ela era uma mulher super compenetrada e preocupada em fazer o que a sociedade acha certo, deixando as suas necessidades e desejos de lado, agora ela é alguém que não se importa nem um pouco em mandar o seu vizinho policial se foder quando acabaram de desovar um corpo no deserto. Não é preciso nem dizer que Abby, mesmo apavorada com a nova mamãe zumbi, curtiu a ideia de uma mãe mais light. Apesar do caos, a relação entre os membros da família foi bem trabalhada e os momentos de crescimento são muito legais. A lealdade impera ali, atravessando a confusão, enquanto eles lutam uns pelos outros a todo tempo. Inclusive quando a mesa vira contra eles e o caos retornar já que nem tudo é perfeito – nem fica perto de estar quando a dona da casa está comendo gente, né?!

A química do elenco é muito divertida e eficiente. Eles realmente passam a personalidade dos personagens de maneira crível e envolvente, até mesmo aqueles antagonistas meio apagadinhos. E, além disso, eles são bem diferentes, o que possibilita explorar os diferentes tipos de reação que um zumbi racional despertaria em cada um que descobrisse. O enredo da série é bem elaborado, mas nada extremo. Ele cumpre o que prometeu e fecha a temporada com o cliffhanger beeeem intrigante – mais do que achei que conseguiria – que deixa o espectador com uma necessidade de saber como aquilo se desenvolverá porque, olha, o final é caótico e desesperador.

Desesperador é a palavra da série. Claro, e por que não seria? Temos um zumbi vivendo no bairro, gente. Nada com o que se preocupar. Santa Clarita Diet mostrou também que a paródia da era atual pode dar certo e adicionou diversão certa à sua coleção de palavras. Os zumbis estão na moda, senta no sofá, aperta o play e aproveita em grande estilo. Te prometo boas risadas.

Apaixonada por música, cinema, moda e literatura, história mundial e andar de bicicleta. Sonha em ter muitos carimbos em seu passaporte.

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