HQs & Graphic Novels,  Resenhas em Quadrinhos

Bula em Quadrinhos | Black Hole, de Charles Burns

Black hole sun, Won’t you come?“, o trecho extraído do refrão clássico da banda Soundgarden parece representar muito bem os sentimentos dos personagens do universo de Black Hole, obra de Charles Burns.

Black Hole foi publicada inicialmente como uma série em doze volumes, publicada ao longo de dez anos. Ganhou diversos prêmios, entre eles o Harvey e o Eisner, o maiores prêmios que um quadrinho pode receber. É considerada a obra-prima de Charles Burns, quadrinista americano consagrado pela sua narrativa gráfica carregada de simbolismos e profundidade, além da sua arte inconfundível.

A história se passa em uma cidade no interior dos Estados Unidos em meados da década de 70, quando os movimentos culturais que revelaram grandes nomes como Jimi Hendrix e Janis Joplin já estavam perdendo força. Começamos conhecendo Keith e Chris, ele é um adolescente que está sempre fugindo da sua realidade, sempre querendo estar em outro lugar, já ela é a menina popular da escola, querida por todos, mas que no decorrer da história perde o apreço das pessoas por causa de algo além do seu controle.  Logo em seguida, o autor nos apresenta algumas ideias que serão trabalhadas ao longo do quadrinho, sexualidade, amadurecimento, preconceito, vazio…

Enquanto a vida dos jovens parecia bem normal, nós ficamos sabendo que existe uma praga assolando aquela cidade: uma espécie de doença sexualmente transmissível, só que bem diferente. Ela causa mutações horrendas nos seu infectados, que vão desde membranas entre os dedos – lembrando os membros inferiores de um pato – até deformidades no rosto, os fazendo parecer um monstro tirado de um conto de horror.

E, nesse cenário meio apocalíptico, as relações entre os personagens começam a ser construídas de maneira muito sutil, como um olhar na multidão, e a narrativa gráfica e textual se unem perfeitamente. Nas primeiras páginas da graphic novel, já fica claro que estamos diante de um trabalho ímpar, a forma como o autor utiliza o preto é extremamente importante para construir o mundo repleto de vazio que ele deseja nos apresentar. Pouco a pouco entramos na mente desses personagens e conhecemos seus medos e anseios através de sonhos psicodélicos – mais um momento em que a arte de Burns se mostra incrível – é o retrato de um juventude criada assistindo televisão e abusando das drogas.

A edição da Darkside está um primor e já foi anunciado que irão lançar outras obras do autor em 2018, isso é ótimo para os fãs de quadrinho, que recebem a oportunidade de explorar as ideias de um dos maiores autores underground da nossa época.

A história cresce a cada capítulo em um ritmo excelente para o desenvolvimento da trama, cada personagem tem uma aura de preocupações distintas. A forma como cada um reage as situações que são apresentados é extremamente sensível, o que demonstra o cuidado do autor com a construção da personalidade de cada um deles. Por fim, o autor nos entrega uma obra excelente, com personagens muito bem trabalhados e arcos dramáticos interessantíssimos que mostram como um período das nossas vidas pode ser extremamente aterrador, mas que isso pode ser apenas uma fase e que, o que vai determinar o quão esse momento poderá ser duradouro é a forma como decidimos confrontá-los.


Clique aqui e compre com o nosso link da Amazon

[wp-review id=”3207″]

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *