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Resenha | “Os Pássaros”: uma distopia caótica e reflexiva

Em um belo dia atípico na Londres da década de 1930, um jovem corretor – e mais um montão de gente – fica embasbacado com a multidão de pássaros estacionados na praça principal da City de Londres. Ele levava sua vida normal, com seu emprego em uma seguradora e sua casa com sua mãe, assim como muitas outras pessoas até aquele momento. Este inicialmente foi encarado como uma anomalia curiosa, um truque de circo talvez, que não duraria muito. Ou não. A Londres e o mundo mudariam completamente com a chegada dos pássaros. Para narrar essa transição apocalíptica, Baker nos revela a história através da voz de um senhor idoso, que passa um dia mostrando à sua filha como era a vida antes dessa peste bíblica desolar o planeta.

Dividida em três partes, a história dos pássaros se confunde com a do nosso protagonista sem nome graças ao narrador que é, se possível, mais que personagem, ele é a própria história. É difícil explicar isso sem dar detalhes que comprometam a leitura, mas é importante manter em mente que acompanhar o jovem pelas poucas semanas em que os pássaros estiveram no planeta é como mergulhar na alma dele e na mensagem do livro ao mesmo tempo.  Os animais se fundem ao cenário e aliado à uma onda de seca e fome levam a cidade a um tipo de caos tão grande quanto a confusão instalada no interior do nosso protagonista.

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Inicialmente, durante a minha leitura, eu achei que tinha em mãos uma distopia poética, algo parecido com o que aconteceu em O Conto da Aia (Margaret Atwood) ou O Circo Mecânico Tresaulti (Genevieve Valentine). Aquilo ali não era exatamente uma história de terror. Bom, eu estava certa e errada. Embora me encontrasse sim em uma distopia, não há nada mais assustador do que a impotência perante uma ameaça, ou a descoberta do seu verdadeiro eu durante o maior obstáculo da sua vida, ou ainda amar de verdade pela primeira vez. O horror aqui também circunda os habitantes daquela sociedade, muito parecida com a nossa da mesma época, acima das suas cabeças, esperando pelo melhor momento para atacar: o momento no qual eles percebam que a perda é total.

Os pássaros são ameaças curiosas, aparentemente inofensivas e até mesmo caricatas, e justamente por isso se tornam poderosas e perigosas. Eles são indestrutíveis: nenhuma arma os mataria, nenhum pedaço de madeira os espantaria. Eles não estão ali para ser alimentados, nem para voar para o sul para procriar. É cada vez mais óbvio que eles não são criaturas comuns, mesmo que muito parecidas com os antigos animais que as pessoas estavam acostumadas a ver. Eles vieram por um motivo muito mais intrínseco e secreto, e em nenhum momento, graças às suas posturas diferentes, os londrinos – ou nós! – conseguem esquecer isso, por mais que tentem.

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A leitura e o livro são peculiares, realmente fogem da zona de conforto. A primeira pode ser complicada para quem não está acostumado a uma narrativa mais pessoal, interrompida constantemente por devaneios e reflexões do personagem, assim como divagações e saltos cronológicos. Isso não quer dizer que seja uma leitura ruim, pelo contrário, somente mostra que pode ser mais difícil. O segundo, por sua vez, chegou às nossas mãos em uma das edições de livro mais lindas que já vi (Darkside só se superando!). Totalmente em concordância com a atmosfera da história de Baker, esta edição de Os Pássaros ainda conta com um prefácio muito bom, escrito pelo crítico cinematográfico e escritor, Ken Mogg – que aconselho a lerem depois da história em si (e se puderem depois do filme de Hitchcock também).

Os Pássaros é um livro reflexivo, que deixa o leitor apreensivo sobre o futuro do nosso protagonista e daqueles que ele ama, o faz pensar sobre a verdadeira natureza dos pássaros e o desafia a entender porque tudo aquilo aconteceu. Ao fechar o livro, tive a impressão que a música dos Beatles, Black Bird, tinha sido feita para esta história que, assim como  canção, nem de perto fala meramente sobre pássaros.


Tem mais folheando no canal do blog! Dessa vez, preciso confessar que Os Pássaros está em segundo lugar no meu ranking de livros mais bonitos. Sério, logo após Em Algum Lugar nas Estrelas. Dá uma folheada nele comigo:

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Ficha Técnica:

Título: Os Pássaros | Autor: Frank Baker | Tradução: Bruno Dorigatti | Páginas: 304 | Editora: Darkside Books | ISBN-13: 9788566636437 | ISBN-10: 8566636430 | Ano: 1936 | Adicione ao: Skoob – Goodreads

Apaixonada por música, cinema, moda e literatura, história mundial e andar de bicicleta. Sonha em ter muitos carimbos em seu passaporte.

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