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Dissecando Séries | Downton Abbey – uma saudade britânica

Após mais de um ano do seu último episódio, Downton Abbey ainda mora nos corações dos fãs. Tanto que os rumores e vontades da realização de um filme baseado na história da série não se calaram por muito tempo depois do episódio final. E, para a nooooossa alegria, a NBC, emissora produtora da série, oficializou a existência do filme em junho deste ano. Agora, você, caro leitor, vem me perguntar o porquê desse fuzuê todo? Só é preciso explicar o que é Downton Abbey e você vai entender.

Transmitida de 2010 a 2015 e com seis temporadas, a produção da NBC traz a história dos Crawley, um família aristocrática da Inglaterra do início do século XX, e seus criados desde 1912, mais precisamente. Criada por Julian Fellowes, a jornada dos Crawley atravessa momentos de grandes mudanças sociais, políticas e tecnológicas do país que desafiarão a sua sobrevivência e de Downton Abbey (os ingleses gostavam de nomear suas casas e espaços de terras, então este era o deles) e seus habitantes.

Robert (Hugh Bonneville) e Cora Crawley (Elizabeth McGovern) são os pais de três jovens, Mary (Michelle Dockery), Edith (Laura Carmichael) e Sybil (Jessica Brown Findlay), e são muito apegados ao comportamento da época, juntamente a seu posicionamento social. Acostumados a uma vida cheia de pompas e pessoas lhes servindo, os Crawley encaram um período da história da Inglaterra – e de grande parte do mundo – em que a política e a ideia de soberania sofriam grandes modificações. Ao que tudo indica para o espectador, o longo governo da Rainha Vitória ditou normas e comportamentos para o reino que, ao final do período e início do novo século, pareciam insustentáveis. Os Crawley não foram a exceção desse processo.

O dia-a-dia da família, misturado ao dos criados, evocam discussões pertinentes a como os seres humanos cabem dentro de sistemas políticos e como se comportam em meio a mudanças drásticas de sociabilidade. Nós acompanhamos a necessidade de uns e a dificuldade de outros em encarar esse novo horizonte. Em meio a desenvolvimentos amorosos, amizades e obstáculos pessoais, nós assistimos uma batalha maior, uma batalha que se encaixa bem na teoria de Darwin: só os mais fortes sobrevivem. Os Carwley relutam e lutam por aquela zona de conforto à qual já estão tão familiarizados, mas aos poucos assistimos cada membro da família abrindo mão do familiar e abraçando a mudança. Este é um dos pontos mais fortes da série.

Outro destaque ficaria para os personagens. A série se divide em dois grupos: os Crawley e os criados. Cada núcleo representa uma parte do sistema social inglês da época, com suas normas, chás da tarde e how do you do’s, mas encará-los como algo uniforme é um grande erro. A sensibilidade de Fellowes ao criar e manejar tantas personalidades diferentes com tramas fortíssimas e sensibilizantes é maravilhosa e garante a Downton Abbey o interesse constante do público. No entanto, é comum que histórias que seguem este modelo corram o risco de se perder e apresentem personagens que instiguem mais do que outros. Ao que diz respeito ao primeiro, Downton Abbey consegue ser flexível e moldar seu enredo dosando bem o quanto nós, seu público, conseguimos tomar de uma vez só de cada personagem. Quanto ao interesse nos personagens, mesmo que Mary, Edith, Anna, Bates e a alguns outros chamem atenção (gente, duas palavras: Violet Crawley. Conhecida no mundo real como a magnífica Maggie Smith – que interpretou a professora Minerva McGonagall na série de filmes Harry Potter), cada personagem tem a sua marca e se conecta ao espectador de forma singular.

Downton Abbey é, na verdade, mais um personagem, aquele que abriga a tudo e a todos. Talvez ainda, ela seja a única personagem e todos os outros sejam parte dela como recortes dos mais diferentes períodos da vida, lugares que visitamos e faces que apresentamos através deles. É uma série que exala postura britânica, mas sem frieza ou extrema sobriedade. Uma vez em Downton, você se sente confortável e curiosa para saber qual o próximo passo daquela grande, um tanto esnobe e irregular família. É uma bela produção, maratonável e… o que você ainda está fazendo neste texto? Obrigada por ler, mas vá lá e binge-watch a série.

 

Apaixonada por música, cinema, moda e literatura, história mundial e andar de bicicleta. Sonha em ter muitos carimbos em seu passaporte.

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