Diagnóstico | “Anne With an E” e as palavras grandes
Eu acredito que todo leitor tem fracos literários, ou seja, aquele estilo de história que não importa que tenha fama de ruim, que o autor não seja o mais conhecido, que ninguém mais conheça, que será lido de qualquer forma. Para mim, dentre outros estilos, está o romance de época. Jane Austen e companhia me prendem com uma facilidade espantosa. Por isso, adoro ver suas adaptações (alôu, minisséries da BBC, tamo junto!) e quando abri a Netflix e me deparei com Anne With an E instantaneamente meu interesse foi despertado. Acabou somando-se com o aval de uma amiga apaixonada por romances de épocas e iniciei minha maratona.
Anne With An E é a história de uma órfã da Nova Escócia, Inglaterra, que é adotada por dois irmãos, Marilla e Matthew Cuthbert. Inicialmente, eles queriam um menino para ajudar com o trabalho da fazenda, Green Gables, mas, ao encontrar Anne, eles sentem quase que imediatamente que ela os pertence. A personalidade da menina, tagarela, sonhadora e intensa, pode ter conquistado os Cuthbert, contudo a mesma corte não acontece com o resto da cidade. Anne, então, precisará lidar com julgamentos difíceis e duvidosos do seu caráter que a desafiará a cada novo passo no processo de fazer de Green Gables seu lar.
Vamos começar pelo começo, assim, bem do começo mesmo: a abertura. Normalmente, eu pulo as aberturas de episódios porque depois da segunda vez já não aguento mais a música, a narração ou qualquer outra coisa. Dessa vez, no entanto, eu deixava rolar à vontade porque a abertura de Anne é tão bonita que vale a pena ver e rever quantas vezes necessárias. No caso, sete uma vez que é o número de episódios da primeira temporada. E, ok, vamos à eles – que são o que realmente importa, não é mesmo?
A história de Anne e os Cuthberts foi bem dividida em cada episódio. Era de se duvidar que teríamos tanto material e clímax naquela pacata cidade inglesa, mas assim foi. A adaptação de Anne se juntou às vidas ao redor de Green Gables, entrelaçando o passado de uns com o futuro da menina, e nos entregou um material com diferentes temas. Passamos por trabalho e abuso infantil, encontramos um preconceito enraizado no nada, enxergamos oportunidades perdidas e amores não concretizados e chegamos, inclusive, a encarar a morte em diferentes ângulos. Tudo, no entanto, é acompanhado da suavidade e da alegria que a jovem Anne Shirley consegue colocar na vida.
Sendo bem sincera, Anne começou meio irritante para mim. A menina dificilmente fica quieta. Mas ela tinha algo, um je ne sais quoi que vidra o espectador e o instiga a saber como será o próximo passo de sua aventura. E é aqui que eu deixo meus maiores parabéns a Amybeth McNulty, a irlandesa de quinze anos que mergulhou completamente na personalidade de Anne e nos deu uma performance incrível. Ela de fato rouba a cena com seus discursos calorosos, cheios de grandes e difíceis palavras acompanhadas de um largo sorriso, e toma a série para ela. Contudo, não posso deixar de elogiar também Geraldine James com sua Marilla, que mal sabia que do nada viraria mãe. Marilla é uma das minhas personagens favoritas da série. Não deixa de prestar atenção nesta personagem maravilhosa quando você maratonar essa belezura.
A série da Netflix é baseada na saga de dez livros escrita por Lucy Maud Montgomery, com seu primeiro volume, Anne de Green Gables, publicado em 1908. Inicialmente aconselhado a todas às idades, a obra ganhou o apelo infantil bem rápido e rendeu fama a autora assim que saiu. Outras adaptações foram feitas, tendo como as mais famosas a minissérie canadense de duas partes homônima ao livro (1985 e 1987) e Road to Avonlea (1990-1996). Agora, é claro, podemos somar essa encantadora versão da Netflix na lista.
Diagnóstico:
Anne With an E é uma série de acalentar o coração, sem transbordar infantilidade ou imaturidade. A história captura, a protagonista é encantadora e o cliffhanger do último episódio pede mais uma temporada para ontem. Que maravilhoso jeito de se jogar no romance de época!