Críticas,  Filmes

Crítica | “Moonlight: Sob a luz do luar” dialoga com o que temos mais íntimo: nossa identidade

Um dia frio, um bom lugar para ler um livro e eu tinha escolhido ver Moonlight. Foi mais por conta do burburinho ao redor do vencedor do Oscar de Melhor Filme, que querendo ou não, nos impulsiona a querer ver e pelo menos checar uma produção tida como a melhor.

Moonlight nos conta a história de Chiron, um jovem negro morador de uma comunidade pobre em Miami. O acompanhamos durante sua infância, adolescência e a vida adulta. Durante a infância, ele é extremamente retraído e quieto; tem o apelido de Little (Alex R. Hibbert); e é filho de uma mãe solteira (Naomie Harris) sobrecarregada de trabalho que acaba descontando nas drogas, ou na próprio filho. Juan (Mahershala Ali), um traficante de drogas daquela área e fornecedor da mãe do nosso personagem principal, se aproxima de Little como uma figura paterna, e o ensina que ele tem que traçar o próprio caminho, sendo ele mesmo.

Imagem: Diamond Filmes | Copyright David Bornfriend

Quando é adolescente, ele vira Chiron (Ashton Sanders), sem apelidos. Continua introspectivo (mas pelo menos ele fala agora!!!!). Por ter a aparência diferente dos outros meninos, sofre batante bullying. Sua mãe se torna totalmente dependente de drogas, Juan já não está presente, e apenas a mulher do traficante, Teresa (Janelle Monàe), permanece. Nesse capítulo, ele tem experiências que o marcam para o resto da vida.

No terceiro capítulo, o da vida adulta, ninguém mais o chama de Little ou Chiron. Ele se identifica como Black (Trevante Rhodes) e está envolvido com o tráfico de drogas. É extremamente vaidoso, mas continua quieto; é seguro de si e sabe o que falar e como falar. Nesse momento, ele recebe pedidos de perdão de momentos cruciais em sua vida, e nesse redemoinho, tenta tenta se relacionar com suas raízes e entender o que aconteceu pelo caminho.

Imagem: Diamond Films | Copyright David Bornfriend

O filme é dividido em 3 cortes principais que já conversamos sobre: Infância (i.Little), adolescência (ii.Chiron), e a vida adulta (iii.Black). Os atores que fizeram cada uma das partes foram muito bem escolhidos e é outro quesito impressionante do filme: as três versões de Chiron dão a sensação de serem a mesma pessoa, mesmo com três atores diferentes. Inclusive, é interessante salientar que há um nível de entrega muito grande em todos os atores que participaram da produção. A verossimilhança não é quebrada, e esse é o ponto que mais faz o filme funcionar. E, por isso, essa obra tem um quê de biografia que traz tons de realidade à trama, além de falar de um assunto completamente cotidiano.

Moonlight também é uma viagem visual. Nada da direção pertence ao lugar comum: é sempre muito close, muitos cortes, e isso é relacionado diretamente à história de Chiron. Cada versão dele é uma forma de encontrar sua identidade. Dessa forma, podemos refletir sobre o quanto nossos comportamentos são regidos pela sociedade, se usamos máscaras, se sentimos a necessidade de pautar nosso comportamento pelo outro. Ao mesmo tempo que nenhuma parte desse filme é leve, ele carrega uma sutileza e simplicidade que surpreendem.

Imagem: Diamond Films | Copyright David Bornfriend

Eu escolhi esse filme para me distrair, mas é impossível não se emocionar com a história de Chiron. Tanto ele quanto todos nós passamos por fases, que são como fases de lua, um ciclo termina para outro começar. E principalmente, para alguém seguir contra o padrão, demanda uma força extra. Temos uma identidade, uma essência única, ou temos versões de nós mesmos? Quantos de nós usam máscaras, com ou sem necessidade? São perguntas que permeiam qualquer um de nós e permanecem inerentes a nossa existência. Afinal, ser ou não ser, eis questão, não é mesmo?


Confira o trailer:

[embedyt] https://www.youtube.com/watch?v=cYFIBxizOW0[/embedyt]

Amante de livros e cinéfila de botequim.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *