Resenha | DarkSide Books apresenta uma viagem no tempo aterrorizante com Edgar Allan Poe
Edgar Allan Poe não é um autor que precisa de apresentação, mas o livro preparado pela DarkSide Books merece e muito. Poe é um dos nomes que a editora apostou para a sua linha Medo Clássico, que promete nos dar de presente autores do terror já consagrados numa edição para lá de especial. Quando eu li esse livro, me senti mergulhada numa viagem à 1809, ano do nascimento do homenageado da linha. Logo na introdução, a organizadora do livro, a tradutora Marcia Heloisa, nos conta como foi a vida desse grande autor e da origem dessa melancolia e temas sombrios que povoam suas narrativas. Após este momento, temos um texto com o mesmo propósito por Charles Baudelaire, o principal tradutor das obras de Poe em francês e o homem responsável por boa parte da propaganda sobre Poe na Europa.
Uma das primeiras coisas que Marcia Heloisa te conta é que para ler e entender esse autor específico, é preciso reconhecê-lo. Não fez sentido? Eu explico, mas para isso vamos começar com um resumo da vida desse homem fora do comum. Edgar é filho de atores de teatro. Seu pai o abandonou quando ele tinha um ano e, no ano seguinte, sua mãe morreu de tuberculose. Foi adotado pelo casal Frances e John Allan. Foi negado pelos seus conterrâneos quando não obteve sucesso com seus poemas em Boston, ao contrário de sua mãe, que foi uma atriz reconhecida na cidade. Como ele não era adotado formalmente pelos Allan, foi afastado da família sem nenhuma posse e acabou morando com sua tia e prima.Casou-se com sua prima e viveram uma vida pobre, e Virginia, sua esposa, sucumbiu à tuberculose, como sua mãe. Seu final de vida até hoje permanece como um mistério, ele foi encontrado vagando com roupas de outras pessoas e atordoado. Falando coisas sem sentido, agonizou por quatro dias antes de morrer.
Depois dessa viagem à mil oitocentos e bolinhas, vamos falar sobre a edição. A organização foi feita de maneira totalmente inovadora: os contos estão dispostos em categorias. O Espectro da Morte, Narradores Homicidas, Detetive Dupin, Mulheres Etéreas, Ímpeto Aventureiro. Através delas, nós podemos relacionar a vários pontos de sua vida que nos são revelados. A degustação desses contos se torna ainda mais especial. Os textos de Poe não se concentram em um susto específico, ou uma atmosfera de realidade que se tornará algo assustador. Ele monta elementos melancólicos e enevoados desde o começo da narrativa, e com linhas de pensamentos inteligentes que causam epifanias nos leitores que as absorvem. Esse é um dos casos raros de autores que você não consegue dizer qual o melhor conto, ou qual o pior, dentro dessa seleção.
Falando mais da questão gráfica, cada conto recebe uma ilustração especial, além da arte que acompanha o livro desde a primeira página até a última. A última categoria pertence inteiramente ao maior e mais conhecido poema de Poe: O Corvo. Esta contém o poema em sua versão original, a tradução feita por Machado de Assis (1883) e outra, por fim, por Fernando Pessoa (1924). A musicalidade que o poema contém em sua forma inglesa é absurda, querendo ou não há uma perda na tradução para o português. Dentro dessa edição, podemos comparar a tradução de grandes autores com o original. Se você quiser, pode ouvir aqui Neil Gaiman lendo O corvo e sentir essa emoção 😉 . Para fechar a edição, temos fotos da casa do Mestre. É uma viagem e tanto, não é mesmo? Esses são os contos presentes no livro:
O Poço e o Pêndulo
A Queda da Casa de Usher
O Baile da Morte Vermelha
O Gato Preto
O Barril de Amontillado
O Coração Delator
Os Assassinatos da Rua Morgue
O Mistério de Marie Rogêt
A Carta Roubada
Berenine
Ligeia
Eleonora
Manuscrito Encontrado numa Garrafa
O escaravelho de Ouro
Nunca Aposte sua Cabeça com o Diabo
Primeiramente, fora temer esse livro com certeza foi um presente para mim e para todos os fãs ferrenhos de terror – especialmente os de Edgar Allan Poe. Segundamente, o trabalho e design do livro valem cada centavo nele investido, porque, vamos combinar, DarkSide Books não é qualquer miséria, não. Terceiramente, cito as exatas últimas palavras dessa coletânea especial do Medo Clássico que é uma verdade absoluta: “Nunca mais houve um autor como Poe.”