Anatomia de uma queda
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Anatomia de uma queda | Uma análise poderosa sobre verdades

O filme francês, Anatomia de uma queda, vem levando diversos prêmios internacionais do cinema. Mais recentemente, inclusive, Justine Triet, roteirista e diretora do longa, levou o Cesar Awards como Melhor Diretora, sendo a segunda mulher a ser reconhecida pela premiação em 49 anos.

Não é à toa que a história do julgamento da escritora Sandra foi tão aclamada pelo público e pela crítica. Anatomia de uma queda é um filme que mexe com verdades, narrativas e torcidas de uma maneira tão completa que até após o veredito do júri você ainda fica com dúvidas sobre tudo o que escutou.

Anatomia de uma queda: a sinopse

Dois escritores se mudam para os alpes franceses com seu filho de 11 anos com deficiência visual. Após um ano vivendo na região, suas vidas mudam drasticamente quando o menino encontra o paio morto do lado de fora do chalé onde moram. A partir dali, uma investigação minuciosa sobre a morte começa e Sandra (Sandra Hüller), a escritora, é vista como uma grande suspeita. A vida do casal se torna pública e alvo de julgamentos complexos e sensíveis.

A partir dessa sinopse comum para uma história de investigação, nós ganhamos um baita filme. E eu já te falo que ele é bom, sim, logo aqui de cara. Mas, fica no post para entender o porquê.

Anatomia de uma queda
Anatomia de uma queda | Imagem: Copyright 2023 Les Films Pelléas/Les Films de Pierre

O poder de um roteiro intimista e cru

Anatomia de uma queda não é um filme de investigação que segue a receita de bolo hollywoodiana. Nós não vamos ter trilhas de ação e pistas sendo descobertas pouco a pouco com grandes momentos de revelação. O caminho aqui é um pouco mais profundo e real.

Nós sentamos para assistir um filme e acabamos no papel de jurados, pesando cada fato narrado, cada afirmação como se ela pudesse entregar algum detalhe que passou desapercebido pela promotoria ou pelos advogados de Sandra. Precisamos, então, nos apoiar somente em palavras, uma vez que o filme não nos entrega uma cena com o que de fato aconteceu.

Para tal, é preciso construir um roteiro perfeccionista, onde cada linha está ali por um motivo, por mais mundana que a frase seja. Ela precisa jogar com as nossas certezas e nos colocar para refletir sobre como a verdade absoluta é uma coisa inalcançável. Nós precisamos acreditar, portanto, na versão que nos entregará mais sentido e não é uma missão fácil. Contudo, Justine Triet e Arthur Harari entregaram isso com maestria.

Anatomia de uma queda
Anatomia de uma queda | Imagem: Copyright 2023 Les Films Pelléas/Les Films de Pierre

Todas as câmeras estão nela

Sandra é a figura central de todo o filme, uma mulher que foge de estereótipos, que não vai bancar a donzela indefesa, mas também não será a frieza em pessoa. Ela vê sua personalidade, seu casamento, seu caráter escancarados, duvidados e julgados nos mínimos detalhes e precisa resistir. Abertos com um bisturi como numa autópsia do passado para exploração pública.

Sandra Hüller, atriz alemã responsável por apresentar essa personagem tão humana, faz um trabalho excepcional. Sua atuação sustenta o filme lado a lado ao roteiro, como eu acredito que deveria ter sido, com excelência e comoção.

Veredito:

Anatomia de uma queda é realmente uma análise anatômica, como o próprio título fala. Cada membro daquela família é esmiuçado (até o cachorro, que diga-se de passagem, merecia um Oscar só para ele), pressionado, esfrangalhado, até a última célula. Suas verdades são expostas e estudadas e tornam o filme uma obra extremamente sensível, inteligente e angustiante.

Assistir o filme é um experiência que mexe bastante com nossos sentimentos e nossas opiniões. Faz a gente refletir sobre como a moralidade é vista por pessoas diferentes, o perigo da verdade absoluta, entre outras coisas, enquanto o elenco entrega uma interpretação muito comovente. Ao sair da sala de cinema, sabemos que assistimos algo singular, que permanece com a gente que, mesmo com um veredito, assim como dito antes, duvidamos da realidade de todas as narrativas apresentadas.

Texto originalmente publicado no Instagram do Diga, Isa e ampliado para este post.

Apaixonada por música, cinema, moda e literatura, história mundial e andar de bicicleta. Sonha em ter muitos carimbos em seu passaporte.

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