Diagnóstico | Moonlight: o perigo das tradições
Moonlight: Sob a Luz do Luar, filme de Barry Kenkins, foi lançado em 2016 e ficou marcado por diversas coisas. Entre elas, está um dos maiores constrangimentos da história do Oscar. Porque o filme em questão ganhou o título de Melhor Filme quando todo o elenco de La La Land já estava em cima do palco comemorando a vitória.
Apesar desse momento embaraçoso – para a Academia, claro -, Moonlight marca por vários outros e mais importantes motivos.
Moonlight: A história de Little, Chiron e Black
O filme conta a história de Chiron desde a infância até a vida adulta. Desde criança, ele é perseguido por seus colegas por ser mais sensível e menor que eles. É em uma dessas corridas que ele encontra a figura paterna que nunca TV, Juan, um traficante de drogas conhecido da região. Ele e sua namorada quase que o adotam enquanto sua mãe definha pelo vício em craque entre outras substâncias.
Moonlight é literalmente dividido em três partes, localizando o espectador dos acontecimentos mais marcantes da vida de Chiron. Sob o ponto de vista técnico, a iluminação do filme foi o que me chamou mais atenção. As luzes de Moonlight dizem completam o roteiro, falando o que os personagens tem dificuldade em dizer.
Sobre ser o que os outros esperam de você
A grande discussão do filme está na homossexualidade de Chiron. Crescido numa comunidade onde o homem precisa ser o senhor machão, Chiron leva uma vida difícil e sofrida, precisando esconder quem é de verdade para sobreviver. Ao respeitar as tradições locais, ele vê sua vida tomar um rumo totalmente diferente do que queria – apesar de nós não sabermos exatamente qual seria o seu caminho ideal, talvez, nem ele mesmo saiba. Só conseguimos ver uma grande frustração e desapontamento no seu rosto.
Ser quem você é em um ambiente equilibrado e aberto ao novo já é algo complicado. Ser quem você é onde sua vida entra em perigo por tal ato é sufocante. Assim, Chiron mostra o quão sem ar está em sua última fala no filme, mas para nós fica óbvio durante toda a história.
Moonlight e o passado cobrando pelo futuro
A parte final de Moonlight é a mais tocante. A conexão com sua mãe, já tão enfraquecida, é explorada de forma mais sensível e revive problemas do passado.
Uma das melhores cenas do filme é o re-encontro com Kevin, seu melhor amigo durante a infância e a adolescência e seu primeiro contato com um homem. Nessa cena, a vida parece passar pelos seus olhos e ele analisa todas as suas escolhas nos últimos anos.
Ao meu ver, a questão principal dessa parte reside no poder da mudança, em como nossas escolhas nos moldam e o quão libertador é poder ser o seu verdadeiro eu.
É um filme poderoso, mas indireto
Quando terminei de assistir, precisei de um tempo para interpretá-lo. Não tem um roteiro direto, os personagens não falam muito e quando falam dizem menos do que seus olhos mostram que precisam dizer. Sobretudo, não é um filme fácil, mas é extremamente necessário.