Você nem imagina
Filmes

Você Nem Imagina: representatividade e crescimento numa comédia romântica incrível

Quando eu era criança, eu brincava muito de Barbie. Todas elas eram loiras, altas, magras e peitudas – típico padrão de beleza dos anos 90, Pamela Anderson, style. Poucas eram morenas. E, curiosamente, essas eram as minhas preferidas, as Teresas. Agora eu vejo que é porque elas eram as únicas que, pelo menos um pouquinho, se pareciam comigo. Claro que nenhuma delas era gordinha, nem descendentes de espanhóis, mas ainda sim, era reconfortante. Eu imagino, portanto, a sensação de ver uma protagonista chinesa e lésbica em um filme tão incrível quanto Você Nem Imagina, uma das mais recentes produções Netflix.

Ellie Chu era uma garota quase invisível

Desde que chegou da China, a vida de Ellie Chu tem sido ajudar seu pai em casa e no trabalho. Com um doutorado, mas sem falar inglês bem, ele não encontrou trabalhos bom o suficientes para construir uma carreira e se tornou um homem frustrado que passa os dias vendo filmes sentado no sofá. Ellie, então, performa as funções de seu pai na estação de trem em que trabalha, além de vender trabalhos de escolas para seus colegas do ensino médio.

Essa “carreira” foi o ponto de partida para uma história de crescimento pessoal incrível. Isso porque, ao ser contratada por Paul para escrever uma carta de amor para uma menina, Aster, Ellie se vê obrigada a deixar sua invisibilidade. Bom, pelo menos para Paul. Mas era o suficiente para mudar completamente a sua vida.

Aster é uma menina com gostos diferentes das outras meninas do ensino médio de Ellie. Encantada por arte e livros, ela se sente totalmente deslocada na sua escola até receber a primeira carta de Paul, na verdade, de Ellie. Ellie que, na verdade, está apaixonada por Aster.

Você Nem Imagina: o quanto Ellie esconde dentro de si

A amizade que é cultivada com Paul e as conversas com Aster mexem com Ellie. Pouco a pouco, nós vemos sua vida tão regrada e igual se sacudir. Primeiramente, o contato com Paul a faz perceber como é ter um amigo, como é se importar com alguém – além dela e do pai – e como são as outras famílias. Ele a encoraja a ser ela mesma e a arriscar ser a sua melhor versão.

Paul pode não ser o menino mais letrado, mais curioso por culturas novas, arte e literatura. Ele é, ao seu jeito, muito leal, ingênuo e determinado. Esse contraste com Ellie a ensina muito sobre compaixão, mas, para Aster, traz dúvidas sobre o menino das cartas e aquele em frente dela. Aster, por sua vez, tem questões familiares complicadas, pouco trabalhadas no filme, mas ainda assim presentes.

Todo os personagens tem segredos, desejos, que temem colocar para fora. Ellie esconde sua paixão por Aster, sua vontade de crescer, sua música. Paul esconde sua vontade de mudar a receita da salsicha da família, o sustento dela por gerações. Aster esconde sua bissexualidade, sua arte e sua vontade de se libertar de um pai machista e rigoroso.

Esse medo é compreensível, pois quando o segredo de Ellie vem à tona, Paul não tem a melhor das reações. Foi até uma reação comum para a religiosa cidade, mas ele rapidamente muda de ideia. Na minha cena preferida do filme, Paul e Ellie declaram o que é o amor para eles dentro da igreja da cidade e é absolutamente lindo.

O rompante de coragem de Ellie a faz florescer. A partir desse momento, ela decide lutar por ela e por seu futuro. E, olha, é bonito a beça de se ver.

A representatividade em Você Nem Imagina

Uma das coisas que mais me marcaram no filme foi a cena em que Ellie explica porque seu pai é desse jeito para Paul. Fica claro a dificuldade e o preconceito sofridos pelos imigrantes nos EUA. A própria Ellie recebe uma piada com seu nome todos os dias na escola. Aster, inclusive, descentes de latinos recebe fofocas sobre sua família.

Filmes como Você Nem Imagina são extremamente necessários para alertar e dar voz e visibilidade a mais parcelas da sociedade. Seja ela americana, seja europeia, de onde for. Para que além de pedir uma mudança, todos aqueles que os assistirem conseguirão enxergar um pouco de si mesmos nas telas.


Apaixonada por música, cinema, moda e literatura, história mundial e andar de bicicleta. Sonha em ter muitos carimbos em seu passaporte.

2 Comentários

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *