Livro x Filme | Aniquilação: um sci-fi diferentão e hipnotizante
Nós estudamos na história que, durante um bom tempo, a humanidade via o mundo nos limites das fronteiras da Europa, da Ásia e norte da África. As tecnologias não permitiam que a curiosidade se expandisse até então. Contudo, quando as possibilidades se abriram, as Grandes Navegações mostraram a vontade do homem em explorar o desconhecido. Afinal, vai que tem algo bom por lá? A “aula” de história veio aqui para lembrar que esse sentimento – a curiosidade humana – moveu e impulsionou incontáveis eventos, ficcionais ou reais, através da história. Ele é também o motor de Aniquilação.
O sci-fi de Jeff VanderMeer nos leva para a Área X, um espaço no meio do nada em que experiências estranhas tem acontecido com os times de exploradores mandados pelo governo. Com o objetivo de encontrar respostas para a interrogação que ela representa, os pesquisadores apresentam comportamentos estranhos durante a estadia e os poucos que retornam, não ficaram muito tempo entre nós. Após o que se parecem décadas de exploração, o grupo da nossa narradora, formado por uma psicóloga, uma antropóloga, uma topógrafa e uma bióloga, constrói uma aventura sombria, misteriosa e bastante perigosa em terras que mais parecem engoli-las do que a própria areia movediça.
O Livro
Bastante baseado na sinopse acima, o livro é um diário. Narrado pela bióloga, nós somos inseridos pouco a pouco em um ambiente sobre o qual ela e suas companheiras pouco sabem, mas precisam encontrar coragem para desbravar. O diário com sua voz totalmente parcial é uma ferramenta poderosa de imersão tanto na Área X, quanto no passado e psicológico da bióloga – que não tem um nome a ordem do governo, uma vez que acreditava-se que a individualidade atrapalharia o trabalho em equipe. Ainda assim, a Área permanece uma incógnita.
O que é aquele espaço? O que aconteceu com as pessoas que moravam ali? O que aconteceu com as equipes anteriores? O que está acontecendo comigo? São, entre muitas outras, perguntas que permeiam Aniquilação. O New Weird de VanderMeer atinge com o pé na porta a proposta do gênero. Você tem elementos de ficção científica – a pesquisa, a exploração, o envolvimento governamental -, a fantasia – o mistério, as supostas criaturas – e o horror.
Se a curiosidade é o motor da trilogia, o medo se torna o combustível a cada página. A incompreensão se soma aos dois e faz a trajetória de leitura ser bastante viciante. Como se não fosse o suficiente, a protagonista me pareceu perfeita para a ocasião. Ela fica comprometida a causa de uma forma intrínseca, em que desafia as normas do governo ao mesmo tempo em que parece entender o lugar melhor do que ninguém.
Mesmo assim, não o suficiente para nos explicar detalhadamente. O leitor se vê num mixed feelings de maravilhamento, estranhamento e confusão que tira qualquer um da zona de conforto com uma qualidade fantástica. No entanto, reconheço que não é um livro que agrada em larga escala. Para minha sorte, deu certo para mim, levou cinco estrelas logo de cara e me deixou com vontade de abraçar a trilogia Comando Sul (Aniquilação é seguida por Autoridade e depois Aceitação).
O Filme
{Pequenos spoilers a seguir}
Estrelado por Natalie Portman, a adaptação de Aniquilação chegou ao audiovisual graças a Alex Garland (Ex-Machina), responsável pela direção e roteiro do filme, no início do ano. Com modificações, a história de Aniquilação localizou a Área X, nomeou as pesquisadoras, deu mais vida ao marido de Lena (Natalie Portman) e, ao que tudo indica, introduziu elementos dos outros livros da trilogia.
Lena, ex-militar, se voluntaria ao experimento após seu marido voltar da última missão um tanto apático e fora de si. Após ele passar muito mal, ela se comunica com as autoridades e é interceptada no caminho ao hospital. Quando acorda, está em uma nova base, perto da Área X e vê os segredos da tarefa de Kane revelados. Ao menos, o que o governo sabe. Após os exploradores entrarem na Área, não há mais sinais deles, nenhum tipo de comunicação com o lado de fora ultrapassa seus limites.
Ela precisa entender o que levou seu marido a seguir naquela missão, porque ele voltou daquela forma. A Área X é sua experiência de luto e as chances de levá-la a própria morte. No entanto, ela é a única pesquisadora que retornou em todo o tempo de análise e seus relatos são preciosos.
O visual do filme é de se aplaudir de pé. Presas no que parece uma bolha, com seus reflexos de arco-íris, as quatro mulheres se veem em um espaço de terror e beleza surpreendente. Cada uma das atrizes entregam um trabalho primoroso, mas o destaque vai para Gina Rodriguez no papel da durona e apavorada Anya Thorensen, que difere bastante das facetas românticas e atrapalhadas de Jane na série da CW.
Da mesma forma que o livro, Aniquilação não é um filme para todos os gostos. Vindo de uma parte da ficção-científica bem específico, já era de se esperar. Após o baixo faturamento das bilheterias americanas, a distribuição internacional ficou a cargo da Netflix, indo direto para o serviço de streaming em março deste ano. Contudo, isso não quer dizer que o filme seja uma catástrofe: a avaliação dos críticos quase bate 90% no Rotten Tomatoes.
Eu acredito que essa disparidade está no apelo reflexivo da história, tanto do livro quanto do filme. Os mistérios da Área X e seus impactos não são revelados a olhos nus – e talvez nunca sejam -, mas hipnotizam e capturam o espectador até seu último minuto cheio de efeitos sutis e marcantes.
Então…
Aniquilação não é um filme blockbuster, deve ir direto para os filmes B, para a cena cult do cinema. Isso obviamente não é classificatório de qualidade. Esta se guia muito mais pelo gosto neste caso. Com uma boa direção, fotografia, efeitos e demais partes técnicas, o filme de Garland faz jus a proposta do livro e entretém o público. Uma boa história não precisa dar de bandeja todas as respostas bem explicadinhas. Ela te faz sentir. Isso é o essencial. E Aniquilação segue exatamente isso.
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Confira o trailer: