HQ x Filme | Atômica: A Cidade Mais Fria

1989. A Guerra Fria já não é mais a mesma. O muro de Berlim está prestes a cair. Um agente da MI6, serviço secreto britânico, é assassinado na Berlim Ocidental quando está prestes a entregar um lista poderosa que pode determinar a vantagem extrema do conflito. Para descobrir o responsável pela morte de BER-2 e pelo desaparecimento da lista, o MI6 envia uma nova agente, Lorraine Broughton, a inconstante cidade para trabalhar em conjunto com o seu agente da área, David Perceval, conhecido como BER-1.

Essa premissa por si só já gera interesse, mas fica ainda mais atraente ao assistir o seguinte trailer, não é?

https://www.youtube.com/watch?v=Jc0_8kW8IGA

O Filme

Inspirado na graphic novel de Antony Johnston, Atômica é um senhor filme de espionagem sem apelar à monotonia em nenhum momento. Na pele de Lorraine, Charlize Theron é uma agente durona, inteligente e determinada, praticamente inquebrável – ou de borracha, sério – e comprometida. Sem ser robótica, o seu lado humano aparece na dose certa e não deixa atrapalhar sua missão. Perceval (James McAvoy) não fica para trás e entrega um espião um tanto punk e egocêntrico que parece sempre estar buscando vantagens para si dentro de cada esquema. 

A estética do filme, com seus tons sombrios contrastando ao neon e fluorescentes, é impecável. Uma das minhas coisas preferidas nele por sinal. Esse toque parece ser marca do diretor, David Leitch, que usou uma coloração parecida em John Wick: De Volta ao Jogo. Com certeza deixou o filme mais sedutor, junto com o figurino de Cindy Evans. 

A trama de Atômica, por sua vez, é bem fechada. A busca pela lista é um interesse constante que, mesmo assim, não deixa de ser interessante para o público, pois todos os obstáculos para encontrá-la foram bem desenvolvidos. Desde o envolvimento de outros serviços secretos até a relação de Lorraine com Perceval, nós acompanhamos cada etapa da missão mais e mais motivados a descobrir a verdade.

A HQ

Escrita em 2012 por Antony Johnston e ilustrada por Sam Hart, a graphic novel que serviu de base para o filme do ano passado é mais concisa. Por limitações bem óbvias: muitas páginas ou mais de um volume poderiam ser um tiro no pé. Contudo, a história é muito mais uma trama de espionagem do que um filme de ação. Embora nós vejamos algumas cenas do tipo, não chegam nem perto da metade da sua quantidade no filme.

Lorraine parece ser muito mais um peão do que uma agente super habilidosa e não passa uma sensação de empoderamento feminino, mas – pequeno spoiler – talvez seja melhor assim. Perceval, no entanto, é um personagem muito ruim. Da primeira a última página, ele é misógino, arrogante e prepotente, e olha não precisava ser tanto. 

Os traços de Sam Hart não foram meus favoritos também. Talvez por ter visto o filme antes, esperava um apelo visual maior. A HQ é toda em preto e branco e o desenho de Hart não é muito definido. Ainda assim, a trama de Johnston é ótima e faz com que o leitor não queira abandonar a história até saber o paradeiro da lista e de Lorraine.

O Veredito

Atômica: A Cidade Mais Fria é um daqueles casos em que o filme é melhor do que a obra que o inspirou. Leitch soube se inspirar e filtrar quais momentos usar, quais modificar, quais esquecer. Entre eles estão, por exemplo, a repaginada em Perceval – tornando-o um personagem muito mais interessante – e a troca de gênero de outro que deixa Lorraine com um comportamento mais sentimentalista. Definitivamente, uma ótima adaptação. 

Mesmo assim, ainda recomendo a leitura da graphic porque nós conseguimos enxergar um pouco mais da essência da missão e da época no quadrinho – já que é mais difícil encontrar filmes ou livros sobre Guerra Fria na Berlim dividida daquele momento do que na Rússia ou nos Estados Unidos. E, é claro, é sempre interessante ler as origens de uma adaptação. Sem falar que a edição da DarkSide está uma belezura só.

Quem aí já leu ou viu o filme? Contem aqui o que acharam!

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