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Crítica | Me Chame Pelo Seu Nome: uma história de amor tocante

Em uma época onde tudo é tão corrido e efêmero, é fácil nos perdermos e prezarmos o superficial. As histórias de amor tem ficado cada vez mais opacas e apressadas, sem a magia ou importância retratadas antes. Essa é pelo menos a minha impressão. De vez em quando, no entanto, surgem pontos de esperança. Me Chame Pelo Seu Nome é um deles.

O ano é 1983. Michael Jackson estava mostrando seu Moonwalk para o mundo com Billie Jean. Stephen King publicava 0Christine. Al Pacino vivia comandava uma organização de tráfico de drogas em Scarface. Mas nós não estamos nos Estados Unidos. Na verdade, um americano, Oliver (Armie Hammer), se muda para Itália para trabalhar como assistente de pesquisa e reescrever sua tese durante o verão. Ele se instala na casa da família do professor, em uma área bastante calma e interiorana, cheia de lagos, campo e pequenas casas. Elio (Timothée Chalamet), filho do professor, não mostra muita paciência para essa nova companhia que parece estar ali só para roubar seu quarto.

A presença do americano incomoda mais e mais o jovem que tenta meio que inutilmente ignorá-lo. Mas nós sabemos bem que uma vez incomodado assim, nada volta a ser cômodo com tanta facilidade. Pouco a pouco, os dois rapazes se aproximam e desenvolvem uma cumplicidade forte. A calmaria e estagnação da paisagem italiana local se agita com cada passo que os dois dão a caminho de se tornarem mais próximos, ainda que em segredo.

Com uma narrativa devagar e gostosa, nós acompanhamos os dois meninos descobrirem mais sobre si mesmos do que sobre todo o resto. A questão da homossexualidade é tratada como deve ser: com respeito e igualdade. Afinal uma história de amor é uma história de amor – exatamente como retrata o pai de Elio em uma conversa muito bonita que tem com o filho mais para o final do filme. Apesar de serem bem diferentes, os protagonistas parecem passar por esse trajeto juntos, como uma novidade dividida. Para orquestrar esse caminho de maneira bem-feita, o roteiro e a direção esbanjaram qualidade. Enquanto o roteiro é cheio de poesia, montado com frases que dizem muito mais do que as palavras ditas, a direção trouxe à tona uma infinidade de olhares que falam mais do que qualquer palavra. 

Armie Hammer e Timothée Chalamet mostraram uma química invejável que muitos casais que nós vemos na rua deixam a desejar. Eles já entraram no filme prontos para quebrar o gelo como afirmaram na recente entrevista na Ellen DeGeneres. Estavam ali para mostrar ao mundo uma bela história de amor. E conseguiram. Os protagonistas, cada um com as peculiaridades dos seus personagens, souberam conquistar tanto o outro quanto o público. Seja Oliver com seu jeito folgado de ser, seja Elio com seu lado artístico e quieto, os personagens convenceram e encantaram sem exageros ou mediocridade. Na dose certa, no lugar certo, no tempo certo, eles nos deram um romance quase que invejável (quase porque… bom, spoilers).

Você já foi ou procurou a Itália na internet? Ela é muito mais que o Coliseu, pizzas e gelato. A natureza é uma musa por si só. Com uma olhada e nosso lado romântico, parnasiano se ascende. A matéria-prima foi dada de mão beijada para a produção e seria muito decepcionante se eles não soubessem usufruiu de tamanha beleza. Para o nosso alívio, o trabalho foi bem feito. 

De fato, trabalho bem feito é o sobrenome do filme. Me Chame Pelo Seu Nome é encantador, parte e reconforta seu coração ao mesmo tempo e merece todo o reconhecimento que tem ganhado. Nos Oscars deste ano, está concorrendo em três categorias: Melhor Filme, Melhor Ator (Timothée Chalamet) e Melhor Roteiro Adaptado. Para quem não sabe, inclusive, o filme é uma adaptação do romance homônimo de Andre Aciman, publicado aqui no Brasil pela Intrínseca, que ficou dentre os vinte mais vendidos de ficção do mês de janeiro. Ao que tudo indica, o diretor Luca Guadagnino tem a intenção de seguir o modelo de Antes do Amanhecer e desenvolver mais filmes sobre o casal com o passar dos anos. Tiro no pé ou certeiro? Eu admito que gostaria muito de ver mais da história dos dois, mas continuações são sempre passos perigosos. Como se diz: não se mete em time que está ganhando. 

Enfim, a história de Oliver, Elio e seu amor de verão brilha no meio dos clichês, da mesmice e da superficialidade. Ele desacelera o mundo como o calor faz – sem o estresse, obviamente – e nos faz admirar a paz, a brisa e o amor exatamente como num dia dessa estação. Difícil resistir a um dia desses? Pois então, com o filme é a mesma coisa. Irresistível.


Confira o trailer:

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Apaixonada por música, cinema, moda e literatura, história mundial e andar de bicicleta. Sonha em ter muitos carimbos em seu passaporte.

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