Crítica | Baby Driver e a melhor trilha-sonora do ano
Sabe quando você está passando o seu feed nas redes sociais e se depara com um vídeo daquelas pessoas em programas de talentos que surpreendem Deus e o mundo quando abrem a boca? Você fica encarando a tela quase tão encantado quanto os jurados e a plateia que presenciou aquilo ao vivo. Daí, você pensa: isso aí é talento. Pois é, talento. Talento é algo engraçado. Um gene totalmente aleatório que a divindade resolveu lançar na nossa essência, dizendo taí uma canja para você fazer algo com a sua vida. Sua aleatoriedade, no entanto, vem acompanhada da sorte. Nem todo mundo sai pelas ruas fazendo cálculos impressionantes ou cantando ópera. Os abençoados pelo acaso precisam, contudo, decidir o que fazer com o seu talento – o usará para o bem? Para o mal? Ou deixará ele quietinho?
Baby (Ansel Elgort) é um motorista excepcional. Com pouco mais de dez anos, já mostrava suas habilidades atrás do volante, roubando carros pela cidade onde morava. Levava essa vida após a morte de seus pais em um acidente de carro, que, além de deixá-lo órfão, cuidou de implantar um constante zumbido em seus ouvidos. Para abafá-lo, Baby continua a viver em alta velocidade, ouvindo música. Em um dos seus roubos, contraiu uma dívida que ele nunca poderia imaginar que teria e dirigir se tornou mais do que uma habilidade, um talento, uma paixão. Dirigir agora era o pagamento.
Anos mais tarde, o motorista se tornou o encarregado de carros de fuga de grandes assaltos. Com malandros e criminosos de alto grau, Baby se via em uma vida que realmente não queria ter, principalmente após conhecer Débora (Lily James), uma garçonete tagarela e simpática que divide com ele o interesse pela música. Agora, ele precisa recomeçar, abandonar as fugas e reconstruir sua vida. Isso, porém, pode não ser tão fácil quanto ele achou que seria.
Vamos começar por Elgort. O menino de A Culpa é das Estrelas e da saga Divergente já mostrava que não estava ali para brincadeira nessas histórias mais água-com-açúcar, voltadas para o público adolescente, mas quando chegou em Baby Driver marcou sua carreira. É aqui que o ator mostra para o que veio. A evolução do seu personagem é perceptível graças a uma interpretação muito bem realizada de Elgort. Baby começa a história como alguém misterioso e silencioso, fazendo o possível para não marcar presença – e falhando miseravelmente já que gerava uma aura de curiosidade pairando em cima dele. No decorrer do filme, ele cresce, toma o seu talento e amor em mãos e decide como guiar seu futuro. Ele é um homem de poucas palavras, mas de encenações incríveis.
Por falar em trabalhar bem, vamos tirar o chapéu para Jon Hamm. Don Draper desceu dos arranha-céus de Manhattan, declarou falência e decidiu roubar bancos e o que mais der na telha para suportar o seu vício – e da sua esposa – em cocaína. Ele entra em cena como um cara de meia-idade cool e simpático que só está ali pelo dinheiro e pela aventura, mas que, assim como Baby, com o passar do tempo mostra sua verdadeira face. Ao contrário de Rats (Jami Foxx), que, desde o início do filme, deixa claro o grande – desculpe o termo – babaca que é. pelo menos eu te garanto que ele é íntegro, pois se mantém babaca o tempo todo.
As cenas de ação, por sua vez, foram muito bem elaboradas. Embora não seja fã da saga Velozes e Furiosos, creio que as habilidades de Baby deixariam qualquer outro motorista no chão. Para poder afirmar isso, é preciso reconhecer o excelente trabalho de edição do filme. Desde a introdução muito bem sincronizada e envolvente até os pequenos detalhes de cada movimento de Baby com o carro e suas consequências, Baby Driver apresentou uma edição impecável e definitivamente a palavra deste filme é sincronia. Ela nos leva para o ponto mais alto da produção: a trilha-sonora.
Em meio a trilhas com músicas pop chicletes ou somente instrumentais para feitas para o próprio filme, Baby Driver se destaca por conseguir sair do mais do mesmo e entregar músicas boas, que embalam muitos momentos do filme. Baby, inclusive, usa essa estratégia propositalmente, unindo o ritmo das músicas à velocidade das suas fugas ou a suas idas ao café. Ele faz o que muitos de nós sempre quis: harmonizar o nosso dia-a-dia àquela música que, nossa, ia ser perfeita aqui e quer dizer e-xa-ta-men-te o que eu estou sentindo.
Por fim, Baby Driver tornou-se uma produção em que as falhas se escondem, se perdem no meio de tantas qualidades. Os personagens são interessantes e muito bem interpretados, a edição é fantástica e a história, eletrizante e apaixonante. No filme de Edgar Wright, talento é a base para um mundo de perigos e velocidade; é uma luta entre o que devemos fazer e o que é certo; não é uma escolha, mas a escolha.
Ouça a trilha-sonora:
Imagens: IMDb
Confira o trailer:
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