Filme + Livro | O Diabo veste Prada e o trabalho que um milhão de garotas matariam para ter
Em 2006, fui comemorar meus singelos 12 anos no cinema com alguns amigos. Na época, o filme em cartaz era O Diabo veste Prada, com Anne Hethaway e Meryl Streep, e eu não dava a mínima para moda. Até sair daquela sessão. Daquele dia em diante, resolvi qual seria minha carreira: eu tinha que trabalhar no mundo da moda (mesmo que encarasse uma Miranda Priesley pela frente). Depois disso, já passei por alguns investimentos na moda e, claro, não poderiam faltar livros sobre o assunto. Por isso, comprei O Diabo veste Prada, de Lauren Weisberger, em 2008, mas ele encalhou na minha estante por seis anos. Explico o porquê: meu amor pelo filme me conteve por muito tempo (será que seria muito diferente? será que o livro seria melhor e estragaria o filme?), além da minha versão de 14 anos não ter ficado muito animada com o número de páginas do livro. Contudo, a de 20 ficou mais do que animada e engoliu o livro sempre que tinha uma brechinha. Vamos a história?
Ele fala sobre…
Andrea Sachs. Uma estudante de jornalismo que acabou de se formar na faculdade e está em busca do seu primeiro emprego, que a levaria para uma carreira de ápice no The New Yorker. Com seus currículos espalhados em Nova York, Andy recebe um telefonema do edifício Elias-Clarke, uma editora extremamente poderosa do estado, aonde será entrevistada para a vaga de assistente de Miranda Priestly, a editora-chefe da badalada revista de moda Runaway. Andy, contudo, não é uma garota Runaway. Ela nem sabia quem era Miranda antes de entrar no prédio. Então, vocês podem imaginar a surpresa dela quando descobre que foi contratada.
A partir daí, Andy entra na rotina desesperadora do mundo das revistas de moda com um toque especial: Miranda é uma megera bem exigente. Como segunda assistente (a primeira é Emily), Andy fica encarregada de todos os pedidos mais absurdos da editora-chefe, que acabam tomando mais do que um pouco de tempo extra. Seus amigos e namorado vão ficando cada vez mais em segundo plano, o que não agrada a eles nem um pouco e gradativamente prejudica as relações entre eles. As pessoas ao seu redor no trabalho inserem Andy em um novo universo que ofusca o seu antigo, com novos amigos fabulosos, festas fabulosas, roupas fabulosas, tudo muito fabuloso. Até demais. A Andy que entrou naquele trabalho, prometendo a si mesma que só ficaria ali por um ano, mudava pouco a pouco para uma nova pessoa totalmente irreconhecível.
Mesmo reclamando sem parar, Andy coloca o seu trabalho acima de qualquer coisa, inclusive o crescente problema do alcoolismo de sua melhor amiga, seu relacionamento com Alex, as novidades de sua família. Tudo entra numa bola de neve cada vez maior e a pressão sobre Andy fica insuportável e mesmo assim ela ainda duela entre largar ou não esse emprego dos céus.
Na minha opinião, a Andy do livro é um tanto chata. Miranda é, obviamente, a melhor personagem, apesar de pouco explorada. E Emily, muito mais prestativa do que eu imaginei que seria. Mesmo assim, é muito interessante ver o desenrolar da história, especialmente o desenvolvimento de Andy. Só de ler dá vontade de correr e ajudar a coitada da Andy a buscar o café. Divirtam-se!
Ficha Técnica:
Título: O Diabo Veste Prada | Autor: Lauren Weisberger | Páginas: 407 | Editora: Record | ISBN-13: 9788501068033 | ISBN-10: 8501068039 | Ano: 2007 | Adicione ao: Skoob – Goodreads
E o filme…
Por incrível que pareça, esse é o primeiro livro que preferi o filme. No filme, Andrea Sachs é interpretada pela maravilhosa Anne Hathaway e Miranda Priestly, pela diva-mor Meryl Streep (uma das suas 387326376 indicações ao Oscar). Nesse post, eu quis comentar tais diferenças por serem um tanto gritantes. Então, vamos lá.
A montagem do enredo do filme apresentou mais lógica para mim do que no livro. Os pedidos de Miranda no livro são distribuídos a esmo, enquanto no filme são escalados com graus de dificuldade em que nos permitem ver o crescimento do personagem de Anne Hathaway. Cada pedido funciona como um nivelamento da eficiência de Andy e, no livro, são apenas pedidos absurdos sem conexão.
Não são só os pedidos que parecem ilógicos. A Miranda do livro não corresponde em nada com a do filme. No primeiro, ela é estridente, espalhafatosa e absurda, realmente absurda. No filme, Miranda tem classe, é arrogante e, bom, continua sendo absurda, mas é muito mais elegante.
Os amigos de Andy são mais equilibrados do que no livro. Nate – ou Alex, no livro – é um chef iniciante e Lily trabalha numa galeria de arte, ao invés de ser uma eterna estudante alcoólatra. E, por favor, o que é o Nigel do livro comparado ao personagem magnífico de Stanley Tucci? Fiquei bastante decepcionada quando Nigel apareceu pela primeira vez no livro. Ele é um dos meus personagens favoritos no filme, está em segundo lugar, grudadinho na Miranda. No livro, ele é surreal, escandaloso, quase que invisível, mas preciso dizer que o reconhecemos como o sempre prestativo Nigel.
Mega spoiler que preciso comentar: a trama de Paris do filme não existe no livro. Claro, Andy vai para Paris no lugar de Emily, mas só porque esta a pediu e não porque Miranda a pressionou. Isso não acontece assim como o esquema trapaceiro de Miranda que iludiu Nigel e uma muito sonhada promoção. Eu achei essa parte crucial no filme e me decepcionei bastante por não ter sido realmente retirada do livro. Todo o enredo é melhor montado no filme. Não há como discutir.
Contudo, preciso dar crédito ao livro em um aspecto principal: através das 407 páginas conseguimos entender muito mais sobre a Runaway do que durante o filme. A revista ganha um destaque que no filme fica um pouco ofuscado. Passamos a entender um pouco melhor cada núcleo da revista e como cada um deles está ligado a editora-chefe.
Bom, acho que deu para perceber que puxei muito o saco do filme, não é mesmo? Mas não julguem o livro ruim só por essa resenha. Eu adorei porque, mesmo com esses detalhes, o diabo que veste Prada está lá com suas duas assistentes extremamente eficientes e sua echarpe Hermés.
“Isso é tudo.”
Ficha Técnica:
Título: O Diabo Veste Prada | Diretores: David Frankel | Elenco principal: Meryl Streep, Anne Hethaway, Emily Blunt, Stanley Tucci | Ano: 2006 | Classificação: 5 estrelas | Adicionar ao: Filmow – Letterboxd