O Quinze. de Raquel de Queiroz | Resenha
Algumas obras nascem clássicos instantâneos. Assim foi para O Quinze de Raquel de Queiroz, uma obra que deixou a crítica de boca aberta na época em que foi publicada e ainda hoje encanta seus leitores por onde passa. Em 1928, lançar uma obra que falasse sobre a seca não era algo novo. A escola chamada Romance de 30 estava transbordando com a valorização do nordeste e a seca era um dos temas base para a inspiração dos autores. O Quinze, especificamente, trazia na seca uma visão diferente.
A obra de Queiroz nos coloca no Ceará de 1915, quando uma das maiores secas assolou o interior do estado. Através de três protagonistas, nós temos visões diferentes de como esse fenômeno atingiu a população local. A primeira é Conceição, uma professora que vai ao interior para visitar a sua avó no seu período de férias; o segundo é Vicente, um menino de fazenda que, ao contrário de seu irmão, adora estar entre o gado, cuidando da propriedade da sua família; e, por fim, temos Chico Bento, um peão que se vê demitido e precisa encontrar novo emprego com sua família em outro estado, tornando-se e a eles retirantes.
São três retratos da época bastante específicos da região que, inseridos e desenvolvidos pela escrita precisa e natural de Queiroz, demonstram um panorama do que aconteceu realmente durante aquele período. Além disso, um retrato maior dominava e talvez fosse a personagem principal da história: a seca. Ao contrário de muitos autores da época, Queiroz retratava a seca não como uma vilã, ou como algo a ser destruído pelos protagonistas. Era algo comum, algo que estava acontecendo e os envolvidos e afetados precisavam lidar com ela da melhor maneira que podiam. Uns ficaram outros preferiram ir embora, era uma escolha, não uma luta. O que não quer dizer que tenha sido fácil. A seca de 1915 durou meses e derrubou a economia local. Chico Bento é o melhor exemplo disso. Todo o sofrimento que ele e sua família passam mostram como encarar a saída para tal dificuldade pode talvez ser mais difícil que o próprio obstáculo.
A autora coloca em poucas páginas muito sentimento, sem mimimi, muita batalha e muita determinação através de personagens bastante diferentes, mesmo com a mesma origem. Tudo ali é mais realista. Não existe um grande herói romantizado para salvar o povo da seca, nem conquistar a garota ou qualquer objetivo clássico e em cima de um pedestal. Existem pessoas, existem detalhes comuns, existe a vida.
Ler O Quinze é uma experiência incrível. Você se pega perguntando como Raquel de Queiroz conseguiu expressar tanto em tão pouco. Tenta entender como sua visão conseguiu abarcar diferentes classes e mentes com tanta naturalidade. Esta é a palavra que define esta história. A autora foi mestre em derramar naturalidade nas doses certas em cada momento do livro. E, ainda, conseguiu colocar regionalidade, sotaque, expressões sem sair da tendência da época, sem negar suas raízes.
É realmente algo especial. Os grandes nomes da literatura perceberam isso de cara naquela menina de dezenove anos de então. E nós conseguimos perceber isso agora, catorze anos após a sua morte. É um ótimo livro para quem quer começar a ler mais clássicos, é um ótimo livro para aqueles que já estão mergulhados neles. Ele faz parte daquela série: só leia.
Ficha Técnica
Título: O Quinze | Autora: Rachel de Queiroz | Editora: José Olympio |Edição: 105ª | Idioma: Português | Especificações: 208 páginas |Dimensões:16 x 23 cm | ISBN: 9788503012928 | Adicione: Skoob – Goodreads