Resenha | “Daytripper” e a sobrevivência
Os irmãos Fábio Moon e Gabriel Bá criaram Daytripper sem saber o estrago que fariam com o leitor. Eu digo estrago no melhor dos sentidos, como a Adriana do Redatora de Merda diz sobre o desgraçamento. Ler Daytripper é tomar um dos melhores tapas na cara que alguém pode tomar na vida e um daqueles pequenos grandes incentivos que a vida dá para nós seguirmos em frente da melhor maneira que conseguirmos.
A HQ nos apresenta ao jornalista Brás de Oliva Domingos, responsável pelos obituários no jornal em que trabalha, filho de um grande escritor e que está um tanto perdido na vida. Cada capítulo, nós conhecemos alguns dos dias mais importantes da vida do protagonista, como o dia em que seu filho nasceu ou aquele em que seu pai recebeu o prêmio em comemoração a sua longa carreira, e nos deparamos com uma reviravolta que modifica o significado daquele dia.
Esses marcos do protagonista são mais um mecanismo narrativo para a interpretação e a reflexão do leitor do que propriamente para o apego com a história em si. É claro que nós vamos acompanhar Brás e torcer por ele em suas conquistas e memórias, mas de alguma forma aquilo tudo ultrapassa o contar de uma história, rasga a sua pele e penetra na sua alma de uma maneira tão forte e sorrateira que, quando você percebe, milhares de questionamentos surgem na sua cabeça sobre como você leva a sua vida. O fato de Brás ser um cara comum, tentando se achar, com dúvidas e inseguranças como muitos de nós, só torna esse processo mais fácil e identificativo.
Em uma cronologia não-linear, com cada capítulo representando alguma idade do protagonista, os irmãos guiam o leitor pela história de Brás formulando a ideia de valorização da vida a cada página. Brás passa por dias grandiosos e outros mais simples, nem assim menos memoráveis, que nos mostram a necessidade de aproveitar mais aqueles momentos que nos fazem felizes, aprender mais naqueles que nos entristecem e levar essa sabedoria para o resto de nossa vida. Após ler isso, faz todo o sentido o personagem principal se chamar Brás, ao que indica ser uma bela e super relacionada homenagem ao clássico de Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas.
Como se não fosse suficiente tocar nossos corações com a história, Daytripper encanta pela edição. Suas cores, responsabilidade de Dave Stewart, e traços são tão intensos e condizentes ao sentimento que querem passar que, sinceramente, assusta. O roteiro é bem relacionado a realidade, com expressões e palavras que nós dizemos por aí. A edição física é linda, com suas folhas grossas e brilhantes, seus complementos sobre o processo criativo e seus elogios. E, para fechar co chave de ouro, vamos pensar sobre o título Daytripper, que em tradução livre do inglês significa algo como aquele que faz viagens de um dia. Quer ser mais perfeito que isso? Não tem como.
Publicado em 2011, Daytripper é leitura obrigatória para qualquer amante de quadrinhos e uma ótima, melhor, incrível, belíssima, porta de entrada para aqueles que querem começar a ler o gênero. Já foi traduzido para mais de quatro países e ganhou o prêmio Eisner pela categoria Melhor Série Limitada em 2011. Os irmãos Fábio Moon e Gabriel Bá são os quadrinistas brasileiros mais premiados atualmente e parecem não cansar de lançar obras de boa qualidade e recepção. Sem reclamações por aqui, no entanto. Podem mandar mais, muitas mais.
Ficha Técnica
Título: Daytripper | Autores: Fábio Moon e Gabriel Bá | Editora: Panini |Edição: 1ª | Idioma: Português | Especificações: 258 páginas | ISBN: 9788573518641 | Adicione: Skoob – Goodreads