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Resenha | A Garota no Trem, de Paula Hawkins: um thriller cheio de segredos, traições e perigos

Há cerca de um ano atrás A Garota no Trem estava bombando! O thriller psicológico de Paula Hawkins ganhou prêmios, tornou-se bestseller e ainda foi parar nas telas do cinema. Mesmo já não sendo um lançamento do momento, concordamos que uma boa história sempre merece espaço para ser contada e relembrada quantas vezes forem necessárias, certo? (Além disso, eu sou extremamente atrasada e só consegui terminá-lo na semana passada e essa é a minha desculpa – risos). Então vamos lá!

Rachel Watson é uma mulher cheia de problemas: alcoólatra, desempregada e divorciada. Todos os dias ela pega o trem de 8h04 para o centro de Londres e fica observando o mundo lá fora, principalmente o casal que mora em uma bela casa na vizinhança próxima à linha do trem onde ela costumava morar com seu ex-marido. Rachel bisbilhota e inveja suas vidas de longe, imaginando que Jess e Jason são o casal mais perfeito de todos. Até o dia em que, olhando pela janela do trem, ela vê a esposa perfeita beijando alguém que não é seu esposo perfeito, e na manhã seguinte todos os jornais estão noticiando o desaparecimento de Megan “Jess” Hipwell. Rachel acredita que pode ajudar a solucionar o mistério e acaba envolvida em um trama cheia de traições, segredos e perigos, descobrindo mais do que apenas sobre o “casal perfeito”, mas também sobre si mesma.

Sobre as características mais técnicas e genéricas do livro, a história foi muito bem construída. A narrativa pode parecer um pouco confusa para alguns leitores porque três personagens diferentes relatam os acontecimentos que transitam entre os tempos passado e presente, mas isso não é nenhum problema ao meu ver — é na verdade muito importante para a construção da história. A escrita da autora também é muito boa e te deixa presa do começo ao fim (eu mesma que já conhecia toda a história li A Garota no Trem como se fosse a primeira vez que entrava em contato com aquele mundo e devorei todas as páginas em poucos dias). Além disso, os personagens são ótimos: apesar de alguns não terem me agradado tanto por questões de personalidade, todos são complexos, confusos e imperfeitos — gente como a gente mesmo.

A história de Paula Hawkins vai muito além de um mistério de assassinato comum: ela é sobre três mulheres lidando com as dificuldades de uma sociedade machista e preconceituosa. Apesar da protagonista ser a conturbada Rachel Watson, a história também é narrada por outras duas mulheres: a loura misteriosa Megan Hipwell e a nova esposa de seu ex-marido, Anna Watson. Através de suas atitudes e visões sobre diferentes situações, somos levados a duvidar dos personagens e seus segredos — e até de nossas próprias interpretações sobre cada um deles.

A maior crítica feita por este livro é sobre o estereótipo da mulher ideal: boa mãe, 100% fiel e disponível para atender às vontades do marido 24 horas por dia, — bela, recatada e do lar, algo que nenhuma das três personagens são — e se ela pisa fora dessa linha perde a sua moral, sendo julgada pelo restante da sociedade. O assunto “filhos”, claro, também é trazido à luz na história, na qual uma personagem sofre por não poder tê-los enquanto a outra sofre a pressão de “dever” tê-los. No caso de Rachel, ainda existe mais uma crítica: o preconceito direcionado às pessoas que sofrem de alcoolismo e depressão, tornando-a uma testemunha sem credibilidade aos olhos da polícia e sendo julgada por todos ao seu redor como uma mulher fracassada e perdida.

A autora também provoca um debate sobre como a manipulação masculina sobre as mulheres é um problema enraizado de forma muito profunda na sociedade. É difícil negar que todos nós somos induzidos a acreditar na autoridade dos homens e reconhecer suas percepções como sendo as verdadeiras, enquanto as mulheres passam a duvidar de suas próprias interpretações — aquela velha ideia de que “as mulheres são loucas” a qual infelizmente muitos ainda proclamam.

A falha de casamentos, a construção de uma vida de aparências e a obsessão são alguns dos outros temas trabalhados na história. Entretanto, tenho consciência de que A Garota no Trem não coloca as mulheres como vítimas a todo momento — e eu também não acredito que elas sejam. É importante perceber a crítica ao adultério de ambas as partes, tanto homem quanto mulher. Nesta história ambos traem, são traídos e praticam alguma forma de violência contra o outro. A diferença é como tais traições são julgadas pela sociedade de acordo com o gênero do indivíduo. Mas, no fim, cada um deles possui suas singularidades, suas personalidades repletas de “defeitos” e “qualidades”, o que nos provoca a dúvida: cabe a nós julgá-los como sendo inteiramente culpados ou vítimas?

Ficha Técnica:

Título: A Garota no Trem | Autora: Paula Hawkins | Tradução: Simone Campos | Páginas: 378 | Editora: Record | ISBN-13: 9788501104656 | ISBN-10: 8501104655 | Ano: 2015 | Adicione ao: Skoob – Goodreads

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Carioca viciada em pizza, Cinderela e livros. Não suporta injustiça, não atende telefone de casa e queria ter um cavalo preto pra chamar de seu. Já viajou por vários lugares do mundo. Na sua mente.

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