A longa viagem a um pequeno planeta hostil nos transporta para personagens inimagináveis e lugares incríveis
Todos nós sabemos que a capa de um livro é a primeira coisa que chama a atenção de um leitor. A capa deste livro, então, foi o chamariz para nos interessarmos por essa história, e um título longo e misterioso captou a nossa curiosidade. No entanto, não foi apenas a capa, de maneira superficial, que nos fez pirar com a história, A longa viagem a um pequeno planeta hostil nos traz uma jornada com tantos personagens ricos que você se apaixona por cada um deles.
Tudo acontece numa nave chamada Andarilha, que já tem alguns anos de estrada e está toda remendada. A tripulação é conhecida por fazer perfuração de túneis espaciais, ou buracos de minhoca, pelo universo, mas sempre pegou trabalhos pequenos. Após muitos anos de trabalho cuidadoso e a contratação de uma guarda livros, o capitão Ashby ganhou a confiança da Confederação Galáctica (uma organização para reger as regras de todas as espécies viventes no universo) e recebeu uma proposta que ele não poderia recusar: fazer um túnel em um planeta distante, que era conhecido por ser hostil. Dessa vez, os habitantes desse pequeno planeta querem selar a paz e se unir a Confederação Galáctica.
Em A Longa Viagem a um Pequeno Planeta Hostil, a tripulação que irá cuidar dessa missão é mista, tem diversas espécies de alienígenas e, inclusive, de humanos. A descrição da autora faz a nossa imaginação voar, e a criatividade dela não nos deixa na mão. Ashby é o capitão e um humano exodoniano, ou seja, um humano que foi criado no espaço sideral, após o êxodo do planeta Terra. Sissix é a piloto e aandriskana, uma espécie de aspecto reptiliano. Dr. Chef é um grum de gênero fluido: em uma parte da vida é macho e em outra, é fêmea. Kinzy e Jenks são dois humanos que são os técnicos responsáveis pelos reparos na nave. Ohar, um sianat par que é o navegador da tripulação, já que é uma espécie de “alienígena GPS” de túneis. Corbin, é um humano e o algaísta da nave porque algas são um dos tipos de combustíveis na nave. Rosemary é a nova guarda livros, uma humana que nasceu em Marte e que nunca havia saído de seu planeta. E, por fim, Lovey, a inteligência artificial da nave que faz parte da família.
No princípio, começamos com a personagem Rosemary, que é uma humana consciente da existência de outros alienígenas, e, inclusive, estudou sobre as diferenças sociais e fisiológicas de alguns deles. Apesar disso, o fato de Rosemary vê-las na sua frente ainda causa estranhamento nela, e é com essa personagem e essa sensação que começamos a conhecer esse universo. Depois desse momento inicial, o foco nos outros personagens começa a crescer e todos eles recebem atenção. Esse foi um diferencial que me trouxe muitas reflexões sobre relacionamentos amorosos, como as pessoas podem me ver e, o mais importante, como eu posso ver o outro. Além de diversas situações engraçadíssimas através do contato entre espécies.
O ritmo de leitura é intenso por ter tantos personagens que merecem espaço e atenção, e se o leitor está esperando grandes acontecimentos, realmente vai se decepcionar. Porém, a descrição de Becky Chambers é minuciosa e faz você imaginar cada detalhe diferenciado de uma forma bem vívida. Além disso, o desenvolvimento dos personagens é a palavra de ordem aqui, e o leitor vai rir, se emocionar e ficar muito triste na hora de se despedir de personagens tão queridos.
A galera a bordo da Andarilha ensina muito bem sobre as diferenças culturais e físicas que podem existir entre as espécies, sobre solidariedade e empatia, e o mais importante: sobre o amor. Eu sei que parece clichê, mas essa narrativa ensina muito sobre o amor. Tem uma pegada LGBT+, de aceitação das diferenças e relacionamentos poliamorosos que são discussões muito importantes, e é tudo explicado com tanta didática e delicadeza que você quase sente o amor transbordar desse livro.
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