The O.A.: o passeio entre fantasia e ficção-científica da Netflix | Diagnóstico
Ultimamente tem sido mais fácil, para mim, começar uma série nova do que acompanhar as antigas de setenta mil temporadas. As histórias ficaram menos interessantes, perdendo o apelo, e eu me vi buscando por outras novas há algum tempo. Foi assim que, nesta semana, encontrei The OA na Netflix. Logo de cara, a premissa chamou a minha atenção: uma jovem cega, desaparecida há sete anos, é encontrada após pular de uma ponte. Não, ela não morreu, mas não acaba aí, querido leitor: ela volta a enxergar. A partir daí, ela precisa se readaptar à nova realidade, fora do cativeiro, em sua antiga casa.
Prairie Johnson não está muito feliz em voltar para casa. Seu lar e sua família ficaram lá no cativeiro, assim como o homem por quem se apaixonou. Ela busca uma maneira de se reconectar a ele; para isso, um estranho apelo a une a cinco pessoas daquele bairro totalmente diferentes entre si, para as quais Prairie conta sua história inacreditável e hipnotizante. Contar qualquer parte dela seria entregar a magia da série, então, vamos apenas comentá-la.
Apostar numa série assim é, de cara, um risco – a começar pela mistura de gêneros que permeia o desaparecimento de Prairie. O intuito do seu sequestrador é voltado para a medicina, pois tenta alcançar respostas científicas para um tema polêmico. Ele promove constantes testes, que levam o público a crer que está assistindo a uma ficção científica, mas, então, suas cobaias formam uma vida, um cotidiano que tece, pouco a pouco, uma atmosfera fantástica, e o telespectador já não sabe mais como definir a série. As pessoas que ouvem a história de Prairie, inclusive, mudam gradualmente graças a essa construção; esse desenvolvimento é algo bonito de se ver. Isso tinha muitas chances de ser algo que resultaria em uma série fraca, contudo, The O. A. acerta nos ganchos entre os gêneros e constrói o primeiro artifício para a prender o espectador.
A nossa incapacidade de se desprender da história se dá por outros motivos além dos gêneros-base. Nós assistimos a Prairie abrir seu passado como quem se encanta pelas histórias de nossos avós. O ritmo da narrativa da série não é preso ao comum; você não vai encontrar respostas rápidas para pequenas tramas como em muitos outros shows. Cada episódio nos guia, deixando migalhas para coletarmos e atraindo nossa atenção de maneira sorrateira; quando vemos, entramos na rede e somos pesca. A interpretação de Brit Marling é, para mim, uma das grandes responsáveis por esse encantamento, uma vez que Prairie é uma excelente contadora de histórias.
Dois gêneros (pelo menos!) e uma protagonista incrível não são os únicos pontos fortes de The OA Os criadores, Brit Marling e Zal Batmanglij, investiram no tratamento de um tema que esbarra em muitas doutrinas diferentes: a vida após a morte. A abordagem para esse foco foi como um truque magistralmente realizado de andar em uma corda bamba. Buscando se apoiar na ciência e na imaginação, a série conseguiu construir uma mitologia sobre o after life sem entrar em ideias religiosas existentes e sem ferir aos seus seguidores. É apenas uma nova versão para uma história na qual você pode até não acreditar, mas com a qual, com certeza, vai se encantar.
A série é uma das melhores produções do ano, fugindo do comum e entrando para o hall do espetacular quase que de graça. É uma indicação para quem gosta de ficção científica ou de fantasia ou simplesmente para quem quer se surpreender com uma história excelente e original. Aperte o play e se prepare para maratonar: é inevitável.