Literatura

Resenha | “Ubik”, de Philip K. Dick, é mais que um produto

O livro escolhido para o mês de maio no Vórtice Fantástico foi Ubik, de um dos maiores mestres da ficção-científica, Philip K. Dick. Foi o primeiro livro que li dele, mas sua escrita me interessou bastante e venho compartilhar com vocês alguns pontos sobre essa história.

Em uma sociedade futurista, sofisticada e funcional, os mortos não morrem totalmente. São mantidos em meia-vida por seus entes queridos, e podem se comunicar com eles. Joe Chip trabalha para a Rucinter e Associados, uma organização de segurança antipsis que emprega paranormais (telepatas, precogs) para rastrear e neutralizar a presença de outros talentos psíquicos, infiltrados nas mais diversas empresas. Em uma missão na Lua, algo terrível acontece. Uma cilada. Os melhores antipsis reunidos. E a morte de Glen Rucinter. Entre a perplexidade e a busca por uma explicação, Chip e sua equipe passam a receber mensagens espantosas de seu ex-chefe. Enquanto isso, fragmentos de realidade vão transmigrando para o passado. O mundo parece se desfazer. A história retrocede. Na luta para evitar a completa dissolução, surge uma resposta: Ubik.

Essa é a sinopse que está atrás do livro publicado pela Aleph aqui no Brasil. Normalmente, faço uma interpretação da história com as minhas palavras para mostrar a vocês, mas… Você leu aí em cima? Meio complicado, não? Mas isso não quer dizer que Ubik tenha sido uma leitura ruim. Foi uma experiência bem diferente e me surpreendeu muito.

Já fazia algum tempo que eu não pegava para ler uma história como essa, que te insere num caminho um tanto louco e você só pode e precisa fluir com ela. Vou te contar, Ubik nos deixa muito confuso e isso pode prejudicar a leitura se você não sabe onde está se metendo. Já deixo como aviso prévio nessa resenha que o livro pede um pouco de persistência. Esta, no entanto, não é um grande sacrifício visto que a escrita é leve e não tem muitas páginas. E, para falar a verdade, você pode acabar gostando dessa sensação de estar sem chão na história e fazer da confusão um dos maiores atrativos em Ubik.

O livro é uma reunião de temas bastante interessante. Temos poderes psíquicos, com viagem no tempo, assassinatos e um toque de religião. Este é o ponto que mais me decepcionou. Achei a questão das meias-vidas tão intrigante, mas infelizmente pouco desenvolvida. Os outros temas, ao contrário, são ótimos e bem trabalhados – mesmo que num redemoinho.

Os personagens, contudo, deixam um pouco a desejar. Senti falta de um envolvimento maior, com pelo menos um deles, mas eles passam muito rápido e os que ficam por mais tempo, como Joe e Rucinter, estão presos naquela história. Seus passados são pouco explicados. Dick nos prende mais a história do que aos personagens.

Alguns elementos são dignos de nota: afinal o que é o Ubik? E como você devora a última parte do livro, onde tanta coisa finalmente se encaixa? Ou não? A experiência de leitura é como achar um bote salva-vida no meio do oceano. Um bote um tanto irônico e bem-humorado. Depois de dias a deriva, alguma coisa faz sentido e te da alívio, mas lembre-se ele pode ou não te manter a salvo – afinal, você está no meio do oceano. Em geral, o livro é muito bom e recomendo para quem não está muito dentro do mundo da ficção científica – como eu – e como uma releitura para quem está, para enfim conseguir entender os pormenores dessa história.

Ficha Técnica:

Título: Ubik | Autor: Philip K. Dick | Páginas: 240  | Editora: Aleph | ISBN-13: 9788576570752 | ISBN-10: 8576570750 | Ano: 1966 | Adicione ao: SkoobGoodreads

Apaixonada por música, cinema, moda e literatura, história mundial e andar de bicicleta. Sonha em ter muitos carimbos em seu passaporte.

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